quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

You shook me

Do outro lado da mesa, nada menos que figura esplêndida em formato de garota que veste seu tênis favorito para um dia especial. Ela era a maior das distrações, deslumbrante beleza e companhia perfeita para um pequeno petisco e conversa de bar. Tão linda que deixá-la se dar ao trabalho de erguer a mão para requisitar o garçom seria fatal descuido. No seu riso, um olhar fulminante daqueles de perder o rumo. Então, estremecido, você não consegue fazer mais nada que não seja desejá-la desesperadamente, pois depois de abrir a guarda sua vida disso depende.

De tão irresistível que ela estava, o céu também quis tocá-la, surpreendendo-a com chuva repentina, enviada apenas para acariciá-la os cabelos pouco antes de ela se abrigar. E tudo isso complica, pois a concorrência divina é adversário ferrenho que não dá brechas, ainda mais para alguém que achou um belo par de olhos e perdeu o rumo.

Então ela ri. E cada riso é mais um pedaço de punhal que se afunda no seu peito. Cada vez que ela entorna o copo sem perder contato visual com você é um arrepio diferente na espinha. As mãos se tocam enquanto a bandinha cede às dedicatórias, numa trilha sonora composta pelas vontades dos expectadores com o que há de mais belo e empolgante. Enquanto isso ela brinca, debocha, encanta.

Quando se dá conta, vocês estão indo embora. Embriagados pelo clima daquela noite magnífica, trepidam pela rua numa recusa de voltar para casa. E você sabe que não pode deixá-la escapar, tem que aproveitar este momento, pois suas pernas pararam de tremer. Ela provoca, você responde. Ela acha que vai sair ilesa, mas você resolve ir de peito aberto, pois nada mais atinge seu coração.

Ela beija você.

E suas pernas tremem novamente.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Hands Down

Parece que agora todas as memórias vêm a tona para atordoar. E daí eu esqueço de tudo e penso: como a vida pode ser assim tão boa? Parece que tudo é construído de ternura, a despeito do uso do concreto duro e frio. Quantas vezes a gente já correu felizes de mãos dadas, com pressa de ver alguma coisa que não exigia pressa alguma. Mas éramos nós com pressa de viver, querendo atravessar a vida assim, de mãos dadas e sorriso no rosto.

Desculpa falar assim, mas se eu fosse o roteirista você não teria entrado na história. Eu nunca conseguiria prever as cenas que viveríamos. Eu conheci muitas coisas, fui parar em vários lugares de surpresa. E você conseguiu me descobrir de novo, num pequeno olhar de admiração que eu não lembro de ter visto na minha vida toda.

São muitas falas aqui registradas. E quantas saudades, quantas declarações de amor veladas até a primeira pra valer. Que foi forte, num sussurro, numa dúvida e incerteza que me fizeram querer ouvir de novo para saber que não era engano.

E eu quero tudo de novo, além de tantas outras coisas que vamos vivenciar. Se alguém me perguntar qual foi o melhor dia da minha vida, sem dúvidas, eu vou falar que foram todos que passei ao seu lado.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Zoso

Eram duas histórias paralelas, e eu não sabia o que fazia em nenhuma delas. Só sei que eu andava impulsivo, e não iria deixar passar em branco. Ela mexia comigo de alguma forma que eu não sabia explicar, e por isso os meus dedos ficavam inquietos no celular provocando-a, sempre com respostas prontas do tipo que nunca tive. Falei um bocado de merda só pra ela rir, precisava fazer essa graça mas nem sabia a finalidade. Eu fui uma porra de um pentelho, uma pedra no sapato, mas não queria parar com isso. Era como um vício, um vício tão forte que eu não podia lutar contra.

Fora isso, deixando de lado aquele rosto que era faísca de uma combustão iminente, alguns impulsos novos trilhavam meu caminho. E eu estava sempre lá, com um copo de cerveja na mão e rindo de tudo, familiarizado com pedintes e figuras carimbadas de bar. Comecei a descer escadas rolantes que subiam, cheguei a arrebentar meu joelho. Mas acabei rindo de tudo isso, e as teclas do meu celular não davam sossego. E a porra da linearidade agora não importa nas minhas memórias.

Eu queria ser que nem eles. Sonhar e ir até o fim com isso. Ser ousado, atropelar todas as críticas e antes de morrer, pensar "caralho, eu cheguei ao topo do mundo pelo menos por um segundo". E deu um trampo resgatar tudo aquilo que eu era, juntar os cacos, colar tudo pra pular de cabeça de um abismo de novo. De novo, eu nunca soube o que estava fazendo.

Claro, a vida podia me vencer pelo cansaço. Mas desta vez eu estava disposto a tudo, minha cara não tinha mais preço, era só chegar e bater. E foda-se se o mundo é sádico, a gente tem que apanhar muito mesmo, mas tem que chegar dando bicuda pra ver se arromba a porta da felicidade à força. Eu tava há mais de um ano planejando o feito e daí me fizeram tomar coragem, e desta vez eu ia sem nada a perder.

A agulha na carne, a tinta na pele, e a banda mais foda do mundo tocando no rádio. Minha falta de noção ainda tentando fazer graça, ainda tentando chamar atenção. As coisas que eu nem sabia que iam acontecer já se esboçando. Dedos nas teclas, desesperados por um sorriso, e eu finalmente tinha conseguido um convite. Antes da tinta secar, ela foi molhada por chuva. Mas eu não tava nem aí, algumas coisas nascem para ser lenda. O resto é história.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Since I've been loving you

Obrigado.

Por não deixar aquela porra de menino tímido entrar numa tentativa patética de virar comedor em prol de orgulho alheio, de gente que acha que tudo que tem a ensinar na vida é putaria.

Nada contra quem quer entrar no clube das doenças venéreas, brindar o cálice de garotas de uma noite só que acabam de coração partido e por isso chegam a partir outros corações. Tudo contra quem abandona a boa moça que tem em casa pra sair trepando que nem cachorro em perna de visita, que nem vê onde tá esfregando o pinto que achou no lixo. Mas a verdade é que eu nunca quis parecer espertão ou gostosão, só queria um dia olhar pro poço de uns olhos e saber que é daquela água que quero beber.

Sério, eu tenho a agradecer por tudo. Acho até saudável competir pra ver quem come mais, só que eu sei que não nasci pra esse esporte, e não ligo nem um pouco pro meu score.

Você também me ajudou a provar que eu tava certo e sair duma puta paranóia. Eu só queria uma boa companhia e as pessoas sempre falam que isso é utopia, que eu viajava e ia mudar. Mas eu tô aqui forte, com uma certeza imensa de que sou feliz, e bem diferente daquelas épocas de desespero em que a carência me empurrava pra uma merda de abismo que eu achava ser o caminho mais fácil. Eu confundi teimosia com persistência, e mesmo assim valeu a pena porque as merdas dos tombos que levei me ensinaram a fazer certinho para que tudo funcionasse para a gente.

Acho que você me entende.

E obrigado por isso, também.