quarta-feira, 18 de maio de 2011

Nice


O amor nasce do carinho com que os dedos tocam as cordas, num samba que ressoa muito tempo depois, mesmo a milhares de quilômetros de distância. Parece que o mar, após recolher as pequenas gotas de chuva que ela mandou, traz a ele a música, novamente. Ele só espera mandar um pouco de chuva para que ela possa, enfim, ter uma noite de sono repleta de sonhos bonitos. Quando a chuva aparece para ambos, um sente a presença do outro, como sempre foi.

Ele escolhe cuidadosamente as pedrinhas da praia e as lança ao mar. Quer dividir com ela aquela linda paisagem, as águas azuis que mergulham nas pedras e são puxadas de volta ao oceano. Ele quer que ela veja a imensidão daquele horizonte, os navios robustos que bóiam como se não tivessem peso, e os pescadores que, mesmo sem nada pegarem, recolhem felizes as linhas para colocar mais isca.

Longe de casa as coisas são belas, mas o coração ainda não se sente pleno. Faltam cheiros e a presença dela. Pois não há travesseiro melhor do que aquele ventre que acolhe o ouvido dele. E apenas o lugar em que eles se deitam juntos que ele considera sua cama.

Ele vê tudo de belo - as pracinhas, os toldos, as construções, a praia de pedra, as bicicletas - e clonclui: ainda vai trazê-la para ver tudo isso.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Versailles


O jardim é belo, e quando bate o sol, os lagos colaboram com reflexos que emprestam brilho às plantas cuidadosamente esculpidas e organizadas. Há poucas flores e cores, e há estátuas e bancos frios, mas a grama cresce em simetria, conduzida pelo som de orquestra que paira no lugar. Cada pé que toca as pedrinhas do chão carrega uma história, mas o deslumbre pela imensidão do lugar é quase o mesmo. A grama é tão convidativa que, suave, o sol também recosta sobre ela.

E quantos pensamentos flutuam neste bosque. Em cada passo, uma sensação.

Por todos os lugares, as pessoas fazem questão de registrar sua passagem. As crianças, animadas, andam e correm neste espaço sem igual. Quando há vastidão, há também liberdade. Como sempre deve haver no pensamento.

Sim, há muito o que ser visto. Mas assim é o mundo: um grande jardim a ser explorado, com deslumbrante vastidão. E nossa passagem por ele não deve ficar em branco, pois cada segundo é importante, mesmo se ele for temperado por uma saudade crônica que bate quando deixamos de olhar para fora e decidimos enfim olhar para dentro. Não importa. O coração deve sorrir mesmo com este peso, pois esta é a escolha do aventureiro, irremediável.

E, se o peso começar a ficar muito latente, basta abrir o caderninho onde estão as memórias, revê-las e deixar as novas escoarem. Elas descerão como gotas de chuva para molhar o coração de quem está longe.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Paris


Os paralelepípedos das ruas sobressaem aos olhos, enquanto a paisagem rústica se contrasta com a modernidade dos automóveis. São séculos diversos coexistindo num mesmo tempo e espaço geográfico.

As pessoas.

Vários tipos e línguas confrontam-se na linguagem pura, que só busca o entendimento. O vento frio paralisa, justificando a calma do trânsito de pessoas e carros.

Não é preciso observar muito para sentir a diferença de atmosfera. E mesmo lugares nunca antes visitados confrontam-se com as memórias. Somam-se os lemas, o contos que a própria história ficou encarregada de narrar através dos fatos. E a torre. Sempre imponente a posar para fotos que correram pelo mundo todo. Aquela imagem já era eterna.

Havia rios e pequenos lagos. E, pela noite, luzes deslumbrantes que enchiam os olhos de alegria.

Para ser transportado de volta por breves momentos, bastava ler um pedaço de papel e pronto. Estaria sentado em um banquinho do outro lado do oceano, no calor. E foi então que se lembrou daquele gosto peculiar.

Aquele gosto que descrevia os mais belos jardins da cidade. Um gosto que outrora nem era apreciado, mas, que por ter tanto a ver com ela, tinha se tornado seu favorito. De repente, ao abrir a embalagem e levar o doce sabor à boca, relembrando os momentos, a letra da música e o cheiro, ele a sentiu perto.

Tudo ficou mais bonito: a cidade tinha o gosto dela.