quinta-feira, 26 de agosto de 2010

No one around

A espera foi longa, porém, necessária. Ao chegar, ele não a viu. Estava tão preocupado em encontrá-la, que, afoito, mirando distâncias maiores, não viu que já tinha passado pela garota. Assim, após poucos passos e empurrando seu carrinho de malas, ele escutou seu nome. Era aquela voz que tanto fazia falta, que ele estava ansioso para escutar. Estremeceu e virou meio perdido, procurando por ela. Desnorteado pela emoção e pela atmosfera diferente, viu a garota caminhando em sua direção, com sorriso no rosto e lágrimas nos olhos.

Abraçaram-se.

Na cena seguinte, as malas foram esquecidas, o chapéu estava no chão e os dois se abraçavam e beijavam como se uma guerra os tivesse separado. Nunca mais queriam tanta distância, que tanto multiplicava as saudades. Estar nos braços um do outro era o maior conforto, era o lar de ambos. Ele respirava fundo e curtia o momento, especialíssimo. Como era bom voltar!

A cada momento que olhavam para o lado, voltavam a olhar o outro sorrindo, como se quisessem gravar aquelas expressões para sempre. Como se estivessem reaprendendo como eram seus rostos, e havia naquele momento um prazer infinito em estudar e analisar o rosto do outro. Quando as mãos tocavam as bochechas, cada palavra desencadeava um sorriso. Então, de mãos dadas, eles viram o ônibus passar, e ele carregava no nome um pedaço da história de ambos. Qualquer que fosse o momento especial deles, estas coincidências estavam presentes, só para fazer parecer ficção.

No caminho, mesmo tendo que olhar para frente, eles se entreolhavam. Tudo valeu a pena, e eles nem se lembravam mais das lágrimas da despedida. E ali, com as malas esperando para serem retiradas do carrinho, com o sol leve sobre suas cabeças, no meio do nada e sem testemunhas, eles seguraram a mão um do outro e sabiam que estavam felizes, mais do que antes, numa afirmação de amor certeira.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Everybody Learns From Disaster

Já vem a primavera, para preencher de cores a paisagem melancólica toda de traços em escala de cinza, que clama e grita pedindo algum rompimento. Sobretudo, além de bela, é pura, pois para renascer a gente precisa de beleza inocente, tal qual aquele sorriso de quem acorda depois de um sonho intenso. A cidade espera que ela pouse delicada, com o deixar do inverno, como borboleta em pétala de flor. Que nos cerque, esvoaçante, e, devagar, venha descer com asas coloridas que batem sutis no jardim.

Não, a estação fria não é feia. É bela, mas tem beleza séria, quase triste. Se fosse música, certamente seria aquele blues que, impiedoso, toca fundo sua alma, e chora triste como o último canto de um belo pássaro. Para romper com ela, tem que ser mesmo a primavera. Carregada de juventude e fértil, toda sorridente e enfeitada.

Talvez esta seja a passagem mais importante. É a transição da vida, o rito entre o fim e o começo. E, nesta etapa, eles ficam invertidos, pois o fim é a etapa anterior. É o fim do fato que nos faz aprender para o começo das atitudes que vamos tomar dali pra frente. E elas vão amadurecer no verão e outono, só sobrando as sementes e raízes mais preciosas para o próximo ciclo.

A primavera está chegando. E nosso jardim vai devolver todo carinho que nele depositamos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Need

Eu só preciso de uma lembrança boa para esquecer as ruins. Só preciso de gotas de chuva para que o calor pare de incomodar. Eu só preciso de mãos firmes segurando as minhas, quando um vendaval está vindo, ou um pedaço de doce para tirar o amargor da minha boca. Eu só preciso de inspiração em dias brancos, um sorriso em dias tristes e um ombro pra descansar às vezes.

Eu só preciso de palavra pra cortar o silêncio, de um lápis para riscar o papel. Eu preciso de paciência quando estou chato, de conforto quando estou triste. Às vezes eu também preciso gritar, dar socos na parede, bufar de raiva e chorar as pitangas da maneira mais inconveniente. Eu só preciso de paz emprestada, de tranquilidade, de espaço pra pensar.

Eu só preciso de um beijo seu no fim do dia.