domingo, 28 de março de 2010

Currents

Eu que já andei bastante neste terreno desconhecido sei o quanto ele é tortuoso. Mas sempre tive forças para atravessar. Tanta, mas tanta força, que simplesmente sei o caminho de cor e de olhos fechados. A gente sempre consegue seguir em frente quando tem um objetivo. Quando busca um sublime talvez inédito, quando crê na beleza que está do outro lado, de onde a luz vem.

Olha, a paisagem de lá é a mais bonita para quem sabe contemplar. Eu digo isso porque já vi e vou continuar vendo, sei que vou e minha confiança basta. Conselhos negativos e adversidades não vão mudar minha opinião. Olha como as flores nascem, e o verde é vivo. Quem vive na gruta desconhece a beleza e o som de uma cachoeira, e nunca viu a bela flor que pode, milagrosamente, nascer de um pedregulho.

E como é bonita a caminhada quando se aprendeu a andar. Como é bom nada temer, e, destemido, desbravar os mistérios sob o título de louco. O fluxo da correnteza é um, mas o destino do homem não é um rio. Somos livres para navegar e conhecer a felicidade em todas as formas. Só não estamos acostumados com isso.

Espera só, a próxima paisagem é linda, eu prometo. Não sei para onde o barco está indo, mas vai ser para o belo. Eu não estou errado, porque sei que a beleza existe. Ela é tudo para quem sabe apreciar. Viver a beleza basta. Viver basta. A beleza basta. E meu barco vai semeá-la por todos os cantos do mundo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Saudades

Quando ela está por perto, ele segura forte a respiração. A prende, abafando um suspiro inevitável ao vê-la. Mas, quando ela está distante, aí sim que a respiração fica irregular e seu corpo o trai. Uma pontadinha incomoda seu peito, o pensamento fica nela e até o olfato falsifica cheiros próximos daquele perfume. Um perfume sem igual, cheiro particular que só complementa aquela bela figura.

Quando toca uma música específica, a agulha extrai do vinil da memória o som da voz dela cantando aquela canção, uma de suas favoritas. E quando ele se deita, o espaço que sobra na cama molda o corpo dela, para que os braços deles busquem aquela forma sem se encontrar. Tateando o nada e abraçando o vazio, ele adormece. Daí todas essas lembranças tomam corpo em sonho, que o faz sorrir em uma inocência quase infantil.

Ao telefone, ele confessa saudades. Ela duvida só para provocar. Ele sorri: como faz falta cada pequena frase de provocação. É irresistível o riso dela realizada, a cada vez que ele comprova suas saudades, como réu indefeso que foge das marteladas por sua vida.

Então, ela retorna. Tudo aquilo que era passado caminha em direção a ele como futuro.O presente se resume aos lábios dela. E que presente!

terça-feira, 16 de março de 2010

If the sun refused to shine

Estava frio. Ela ficou sentada na calçada, encolhida, parecia esperar por algo. Silêncio. O único ruído era produzido pelo vento, que estava estranhamente calmo se você olhasse para o céu. Calmo sim, mas frio. Arrepiava como um beijo gélido na nuca, que a fazia estremecer e descruzar os braços, desengonçada. E, com o céu encoberto de cinza, um raio de sol mostrava que ele ameaçava despontar.

Como é bravo, o sol. Ele nunca para, e se altera pouco. Sabe que se aquecer demais pode ferir, e que se desaparecer decretará o fim de qualquer vida. E ele continua lá, acima, paciente, deixando o tempo passar. A verdade é que ele enxerga tudo, e, mesmo em silêncio, mandou um raiozinho beijar o rosto dela. A garota sentiu aquela ponta de calor e sorriu. Então, entre as nuvens, o sol desapareceu novamente, pois seu raio ficaria contido naquela pequena alegria.

Ela se levanta, espana a poeira da roupa e olha pra cima. Fica imaginando para onde ele pode ter ido, e o que deve estar fazendo. Se perde em devaneios tantos que o vento a envolve por completo, sem causar o menor arrepio. O coração dela estava aquecido novamente, dando a certeza de que a aurora brilharia na manhã seguinte.

terça-feira, 9 de março de 2010

Don't wait

Veja como o oceano é vasto. Tem muito para navegar e conhecer, calmarias e tempestades, ondas e continentes. Olhe para o mundo lá fora: oferecendo tanto, prazeres pequenos e grandes, pessoas, sabores, músicas e paisagens. E tudo isso é seu, apenas basta navegar. Deslizar leve sobre as águas, deixar o vento soprar suas velas e confiar na sua bússola.

São tantos prazeres por aí... Não vale a pena ficar no mesmo continente. Não, não vale a pena ancorar em um lugar e ceder à estagnação. Permita-se ao novo, às descobertas. Explore, tem tanto a ser visto e sentido. Tantas texturas que ainda não encontraram sua pele, tantas vozes que não chegaram aos seus ouvidos e tantas paisagens que vão ficar ainda mais bonitas refletidas nos seus olhos. Olhe para o horizonte: ele está esperando por você, e um vento perfumado estufa suas velas.

O tapete azul que se estende para suas aventuras é macio. Você está livre, veja até onde ele vai. Sim, há tempestades, há perigos. Mas você sempre vai poder ancorar num porto. Não há nada a temer, nenhum navio termina a jornada intacto. O importante é ter braveza, é seguir sempre rumo aos seus sonhos e desejos. E, na tempestade mais forte, seu porto seguro estará lá. Forte para você ancorar, aconchegante para você descansar. Não tenha medo de navegar. Porque, às vezes, o medo é mais forte do que a própria tempestade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Musas

É sempre tudo por elas.
As guerras, as obras de arte,
os triunfos e as lamentações.

É sempre tudo pra elas:
as flores, as culpas,
as dores de parto.

Elas são amor puro,
pois só deste ventre
que pode vir a vida.

E não é só o ventre:
no peito que pulsa amor,
também corre alimento.

São puras quando meninas,
misteriosas quando adultas,
perfeitas quando mães.

Em um toque, tornam-se necessárias,
inesquecíveis e eternas.
E quando se vão, viram perfume.

domingo, 7 de março de 2010

Dream on

Ela entrou no pequeno apartamento. Tinha vertigem, estava cansada. Entregue aos macios travesseiros, fechou os olhos na esperança de que o mundo parasse de rodar. Aconchegada e meio encolhida, não reparou que a lua subia devagar, à sua janela, para espiá-la. Aquela era uma cena meiga: deitada tal qual criança que vai dormir, afundada entre travesseiros e lençóis. Um riso gostoso de quem sonha inocente, naquele conforto pré-sono que combinava com seu semblante inocente.

A lua continuava escalando os céus, em busca de uma frestinha para espiá-la. Então, alguém fechou a cortina. Agora, o quarto estava escuro, a vertigem ainda não tinha passado direito. Seus pés voltavam ao mundo, mas em alguns momentos ela pisava em nuvens, e o deixava para trás novamente. Até que ficou com vontade de escutar uma canção.

Então, tal qual cortina de espetáculo, o pano que recobria a janela foi se abrindo lentamente. A lua brilhou mais, enviando lentamente cada faixo de luz para espiá-la. A canção era uma homenagem àquela observadora que subira tanto aos céus pra poder ver seu reflexo naqueles olhos. Com a música tocando, o momento fez-se perfeito. E a menina pisou novamente em nuvens, para dar um beijo na lua.

Enfim, a vertigem passou. A menina estava deitando novamente, mas a lua tinha sumido do céu. Era aquilo, a lua só queria um momento. O sono estava chegando, apenas as luzes da cidade iluminavam o pequeno quarto. Enquanto adormecia, a menina ganhava um cafuné. Mãos carinhosas que, como a lua, se envolviam com a meiguice daquele pré-sono.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dancing in the moonlight

Tudo começa de uma valsa inacabada. Uma dívida criada por motivos justos, a interrupção do momento para ceder a outro com igual ternura. As mãos se soltaram um pouco antes de perder o contato com os olhos. E um sorriso lindo, antes de se virar, viu um olhar de gratidão e admiração. Sentimentos que só cresceram depois desta dança.

Na verdade, talvez a valsa não tenha sido propriamente interrompida. Inacabada, sim, mas porque a dança ainda está acontecendo. Com a bênção de belo luar, os corpos flutuam em ritmo compassado e suave, num entrosamento como se os dois pensassem a mesma coisa e o elo delicado feito por uma mão sobre a outra fosse inquebrável. E como o mundo orquestra este número, fazendo com que o perfume poético pouse sobre cada passo sutil neste salão que parece deslizar.

A dança segue, com beleza e graciosidade. E a música não dá sinais de que vai cessar. Não enquanto a lua continuar bela, iluminando cada passo pousando seu abraço prateado sobre corpos que se juntam num abraço elegante. A valsa é isso: passos simples tal qual a felicidade. O segredo é continuar no mesmo ritmo, pisando juntos e aproveitando esta sensação de flutuar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Walk a while with me

De palavras no ouvido tece meu leito.
E não acredita que nasceu musa.
Humilde, peço que aceite estas palavras,
pois são suas, por direito de inspiração.

E quando pensar em agradecer,
lembre-se de que a gratidão não é sua.
É você que traz o ouro que vira joia
nas mãos humildes de um ourives de palavras.

No seu sussurro baixo nasce poesia,
como o dia desponta nos seus olhos.
E, quando segura minhas mãos,
me conduz pelo mais belo mundo das palavras.