domingo, 31 de janeiro de 2010

Thank you

O meu lar é onde meu coração mora, na brigada que construí com meus amigos. No lugar que tem as luzes com as quais estou tão habituado e das quais eu sinto tanta falta. E, uma vez lá, posso deixar meus pensamentos flutuarem no caderninho. Aquele lugar parece uma fonte inesgotável de inspiração, o perfume das musas para no ar e, cada vez que respiro, me vem uma nova e intensa ideia.

Ali é onde me permito ter rotina. Afinal, nada se repete. O contexto acaba modificando os fatos. Cada espera é uma espera, e nesse tempo o lápis nunca se cansa. Aí eu me dou conta de que, mesmo com prática, a grafia não se aperfeiçoa. Mas não importa. As ideias têm se aprimorado, e isso basta.

Então, me vêm os estranhos. Acho que atraio conversas com mendigos e hippies pelo meu jeito caipira, evidente. Mas tudo bem. O meu lar deve ser um canto de humildade. Mesmo que, por vezes eu tenha prazeres caros, a cervejinha na calçada é tudo que desejo em certos dias. Só faço uma pausa, escuto a conversa. Nego a esmola, desejo boa sorte. E, a alguns que realmente têm fome, arrumo o que comer.

Enfim, quando a companhia chega, cesso o momento de reflexão. Aí a conversa agradável e os risos trazem a outra parte do texto. É a brigada que meus amigos me constroem. Todos eles que já admiraram alguma coisa que escrevi devem saber que fazem parte daquilo. São eles que escrevem, que abastecem as histórias e desenvolvem o pensamento. São eles minha inspiração e talento. A minha brigada e o que me faz ter tanto gosto e tantos motivos para festar. E, a eles, serei eternamente grato.

sábado, 30 de janeiro de 2010

One more time

O mundo é meu, e o dia só acaba quando eu deixar. Está tudo aqui, nas minhas mãos. E, se me recuso der ir pra cama, é porque posso esperar mais um pouco pra sonhar. Por enquanto, quero continuar saboreando esse gosto de que fui até a exaustão do sorriso. Continuar contemplando este castelo, elaborado de sementes plantadas despretenciosamente, mas que germinaram com tão forte raíz, que se agarram ao solo e se elevam até o infinito, me carregando nos braços.

Só agora me dou conta de como sou rico. Tenho tudo, tenho um mundo. Sei o que falta, mas rumo ao infinito sempre falta algo. O importante é ascender sem parar, subir os degraus que outrora não existiam, mas precisam ser transpassados para continuar respirando. E é ótimo respirar, mesmo que as nuvens encubram as estrelas como o medo encobre a verdade. Tudo está atrás para ser desvendado, e num sopro pode-se limpar o céu.

Os motivos da vida se esclarecem no final. E tanta força só serve pra servir de ferramenta pra tudo que está por vir. É recompensador perceber que as respostas estão mais lúcidas, as vontades menos lúcidas, e a realidade nada lúcida. A única coisa que precisa fazer sentido é a exatidão, a precisão dos atos. Os fatos, no entanto, seguem na aleatoriedade que consome a rotina, pois planejar é desejar controlar o universo que não cede a meros desejos.

O mundo, entretanto, é de quem sabe disso e consegue o ter na mão. E este sou eu agora, com um mundo nas mãos e brincando enquanto puder. Ah, o dia já está acabando, por desejo meu. Mas, enquanto alguns perguntam se vale a pena, só consigo pensar em uma coisa: quero tudo uma vez mais.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

To chase a feather in the wind

Tudo que quero, agora, é me inebriar de alegria, de estupor. Ter tudo o que importa, tudo e todos, as sensações, a memória e a esperança. A leveza, como acordes flutuando no ouvido, como samba de sussurros, como respiração de poeta. E nessa métrica, mesmo de olhar perdido, mesmo de pensamento sem sentido, a sequência consagra verso, que consagra emoções e momentos; é brinde que se dilui em prazer e coroa o momento da mudança.

Em alguns momentos, é preciso ser leve como uma pluma no vento. Acompanhar cada oscilação sem perder a sustentação, flutuando e dando piruetas enquanto a poeira se agita lá embaixo. A verdade é que é hora de passar por cima de tudo, mas não atropelando. E sim subindo, sem fazer esforço.

Voltando ao solo, você sabe que as coisas vão acontecer. Um momento histórico, velado, aguardado. Uma paz diferente, de confiança, de quem alçou muitos voos e falhou em diversas decolagens. Algo que foi perseguido por tempos, mas só alcançado quando o peso se converteu em leveza e acompanhou uma trajetória tortuosa, mas que, acima de tudo, planou sobre ares de sossego. A pluma no vento, finalmente, pairou.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Futebol

Não é só um jogo. É aquilo que a gente faz depois de muito aquecimento. Depois de ensaiar as jogadas de palavras ambíguas e pequenas provocações que precedem a partida. Ele só existe com aquela tensão de não saber quem vai atacar e ceder primeiro. E também só é mágico porque não adianta apenas analisar o esquema tático do adversário ou depender do seu. Algumas jogadas ensaiadas podem até funcionar, mas é na improvisação que a mágica e o tesão despontam para o delírio geral.

Futebol é aquilo feito nos lugares mais incomuns. Basta um pouco de espaço e vontade do esporte para iniciar uma partida. E os pés acariciam os campos com suavidade, mas na hora das emoções intensas e batalhas acirradas eles cravam deixando as marcas do espetáculo.

O delíro, a emoção. Cada partida única, sem importar o retrospecto. Os regulamentos falhos, a lógica contrariada. A sensação de estar no topo do mundo, naquele momento em que só importa a peleja. O que acontece no campo é sagrado, e vai marcar os dois times talvez até por gerações. Pois é assim que as boas partidas se consagram.

Ah, o futebol. Pura emoção. Tudo aquilo que a gente faz, em qualquer canto. Com aquecimentos de "dirty talk" e finalizações inesperadas. E, num drible, aos 45 do segundo tempo, você pode ficar desconcertado mas ao mesmo tempo admirado. Mas é assim que a emoção e a expectativa se mantêm. E, quem sabe jogar, apenas fecha os olhos e corre para o gol.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Back in town

De repente, não há mais medo nem repúdio. Há saudades, e um sentimento de fazer parte daquilo. O espírito, em sua inquietude, finalmente mostra-se parte desse caos, pois precisa da agitação da desordem e do mistério do concreto para ficar completo. A paisagem é capaz de tocar o coração e a garoa resfria pensamentos, enquanto não enxergar através das muralhas tornou-se necessário para despertar os instintos de sobrevivência.

A calmaria foi abandonada. A paz, agora, só será obtida pelo ritmo frenético e pela surpresa da não-rotina que se faz cada vez mais necessária para matar o marasmo que nos traga como câncer. E a cidade é linda, mesmo com seus traços envelhecidos e desgastados. É mulher bela com cicatrizes que só mostram que batalhou e muito conquistou. Além disso, tem coração tão grande de mãe que nos acolhe, mas também não sem rigor de progenitora. Em todo seu explendor, ela ainda comemora cada ano de grandiosidade, sem esconder seu passado e muito menos as deslealdades do presente e do tempo. Ela chega a sua idade sóbria, lúcida e digna de grande respeito.

Mesmo quando a deixamos, ela nos espera de braços abertos. E nela podemos festejar, curtir e curar ressacas. Podemos encontrar luzes acesas a qualquer hora de qualquer dia. Ou ter o privilégio de transitar entre o desconhecido, passando por mosaicos de rostos e histórias que nunca vamos ler.

Sim, ela é complexa, e pode assustar com seu jeito de juízo e olhos repletos de memórias insanas, como uma tempestade pronta a se libertar. Ela pode nos cansar, nos deixar órfãos por algumas vezes e até ser fria. Mas ela também oferece felicidade, pois é uma cidade única. E eu estou de volta.

Beleza

Inútil é a clausura e a reclusão.
Solução mesmo é enfrentar o mundo.
Assumir que a dor nunca dói,
e abrir um sorriso rumo ao futuro.

O que toco há de ser felicidade.
Pois as belezas do mundo são inebriantes,
exuberantes e leves como plumas.

Não me importa a propriedade finita das coisas,
já que toda beleza tem morte certa,
mas pode ser eternizada em momento de verso.

A beleza pertence à nossa memória,
ao carinho das lembranças,
à sutilieza dos gestos,
à sinceridade dos sorrisos.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Alvorada

Existem épocas em que as sombras correm soltas, espreitando para agarrar nossos corpos, querendo plantar ímpetos de tristeza e desânimo em nossos corações. Mas, para expurgar todo este mal e impedir que lágrimas sejam mais intensas que sorrisos, o amanhecer nos presenteia com bela alvorada, resplandescente no céu que, com feixos de luz, aquece cada canto do coração e não deixa espaço para haver sombras.

E a alvorada pode ser um riso gostoso, embalado no ritmo de um sambinha que faz as pernas mexerem involuntariamente e convida a dançar. E aquele rabisco que evoca a música e faz a banda executar gentil pedido com rigor de ordem é nada menos que suave brincadeira em guardanapo de bar.

Também pode despontar, esta maravilha, por um brilho. Mas não o brilho de joias exuberantes, e sim por um abrir de olhos que não merecem clichês e ofuscam a beleza de belos brincos. Uma alvorada que pode se aproximar sem limites da sua retina sem causar o menor dano, apenas refrescando-lhe a vista nos mais chuvosos dias.

Não importa o que acontece no entorno. Existem raros momentos em que o horizonte é nosso, mesmo que por breve fagulha de tempo. E nesta hora não se pensa no seguinte, não se pensa em mares de problemas que estão prontos para nos submergir. A carroça da vida vai continuar trotando deste modo desenfreado, sem rédeas. Mas, enquanto esta aurora nos beija, não importa prestar atenção no caminho. Apenas respiramos fundo e deixamos a alvorada renovar nossa paz.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

What is and what shoud never be

Não adiantava mais se esconder, fazer de vítima e chorar. Está tudo acabado. De repente, um refúgio destruído, sem vestígios nem ruínas para reconstruir. A única coisa que havia sobrevivido à devastação era sua alma. Uma alma errante que buscava o conforto enquanto se escondia. A mesma alma errante que chegou àquele novo lugar, triste como um blues e amargo como um gole de whisky. Mas era ali que se encontraria, não queria mais conforto. Queria um lugar como aquele. E que acontecesse o que tivesse que acontecer.

A hora, agora, era de provação. E uma tranquilidade estranha vinha com aquela brisa noturna, sopro de luar. Uma mão invisível o tinha guiado até ali. Apesar do andar natural, ele sabia que não eram apenas suas pernas que o conduziram por aquele caminho. Não tinha portas do passado para fechar. Não tinha mais passado, na verdade.

Novos passos, o blues mais intenso e rápido. Mais pesado. Menos triste. Alguns intervalos, pausas curtas. Whisky sem pedras de gelo. Aquele era o novo ritmo. E o que desse errado, que se juntasse às ruínas antigas. Era hora de virar a página.