quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Reason to believe

Você é minha alvorada, que nasce todas as manhãs e eu preciso ver para saber que estou vivo. Me ensinou a ver belezas ocultas, e pela primeira vez eu me senti vivo de volta à cidade. Lembro como se fosse hoje do drible lindo que me deu. E eu ri, a aprender um novo conceito de futebol. Aprendi como é o jogo, enfim.

Eu pude, finalmente, ser leve para perseguir uma pluma no vento. E enxergar através dos prédios, uma lua distante. Você me deu uma alameda, lembra? Fez com que meus sonhos residissem em um prédio simpático de tijolos, onde pude enxergar uma vida nova naquelas janelas. Aí eu percebi que eu era rico, pois você é minha fortuna. Assim, deixei de nadar contra a correnteza, e fui parar num mar onde pude flutuar sem pensar na direção em que estava indo.

Aí você caminhou um pouquinho comigo. E pela valsa que eu devia, dançamos à luz do luar. Depois, assisti enquanto você sonhava, aquela beleza linda e inocente. E eu não quis mais esperar, pois não tinha mais medo, mesmo se o sol se recusasse a brilhar. As correntes continuavam me levando, mas eu aproveitava para semear o meu otimismo por onde passava. Eu morri de saudades.

Descobri então que nossa sintonia é perfeita. E eu queria que você sempre estivesse aqui. Daí, em um dia de verão, apareceram algumas gotinhas de chuva sussurrando de dor. Havia uma montanha de sonhos, e eu questionava se este era o paraíso. E uma lembrança sua borrifada de perfume bastou para que eu a levasse sempre comigo.

Você queria saber tudo que eu vi quando estive lá. Eu não precisei dizer nada, apenas entreguei aquela pequena gota de chuva. Então percebi do que precisava. Apenas de um beijo seu no fim do dia, quando não tivesse ninguém por perto. Descobri que você é perfeita, e vai muito além do que eu acreditava. E nossas vidas foram mudadas para sempre. Acho que você aprendeu que meu amor é desse jeito.

Quando eu menos esperava, no lugar onde eu menos imaginava, você arrancou palavras do meu peito. E eu pude dizer que aquele dia era o melhor dia que eu já tive. Lembrando de tantas alegrias, eu tirei forças para enfrentar a rotina. Para vencer meu desânimo. Você me inspira a fazer o que eu mais amo, mesmo quando escrever parece não fluir com meus batimentos cardíacos como deveria. Você é minha insônia. Você me devolve a esperança quando eu pareço não encontrá-la. Você é minha razão para acreditar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Today is the greatest

Você que acabou de acordar, saiba que está começando mais um dia imprevisível. Eu sei, você tem planos pra ele e sabe o que quer e pode seguir. O caminho não é desconhecido, uma vez que passa pela estrada da rotina diariamente. Mas é claro que você não imagina que este pode ser o melhor dia da sua vida, ou da minha vida. Mas possivelmente ele será.

Em um dia como este, talvez a gente vá a um bar corriqueiro, com as pessoas de sempre e as mesmas piadas. Nós vamos dar boas risadas entre um chopp e outro, comer uns petiscos, tomar um vento na mesinha da calçada. Ou talvez a gente tenha uma conversa séria, que nos faz sentir medo. Um frio na barriga, acompanhado de pessimismo, e então decidimos mergulhar na rotina para esquecer dos problemas. E surgirão vários questionamentos e reflexões, durante a pausa para um café ou frente ao bebedouro. E eles se perderão no encontro dos nossos olhos.

Ou talvez tudo isso aconteça junto.

Ao acordar, ninguém sabe o que esperar de um dia. Você sabe para onde vai, aonde deve voltar. Mas, fora isso, para onde podemos ser levados? Para uma festa, sequestrados pelos próprios amigos, ou então durante a hora mais tediosa do dia recebermos um convite gostoso. Sermos surpreendidos pela chuva, ganharmos presente, nem que seja um chocolate, ou cochilar no ônibus e perder o ponto.

Mas hoje é o melhor dia da sua vida. E você vai fazer a pergunta que tinha desistido de fazer. Vai receber a resposta que tanto deseja, do jeito que nunca planejou. Vai conhecer um lugar totalmente novo, que só de fechar os olhos e lembrar, vai poder chamar de seu. Porque você nunca viveu um dia igual a este.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Wine is fine, but whiskey's quicker

Sou eu e o mundo. Quando tudo isso acabar, quando todas essas mudanças forem finalizadas, eu ainda estarei lá andando, achando meu rumo e lendo o roteiro da vida. De repente a surpresa boa vem, ou a má, e aí então estarei no fundo do poço.

Não me importa.

Só quero que passe rápido, pular logo os capítulos chatos pra ler o epílogo. Esta acidez que desce devagar e me corrói por dentro podia passar logo, mesmo que mais intensa, mesmo que me desnorteie mais. É como aquele curativo que a gente arranca e sabe o que vai doer. Tirar devagar não minimiza a dor, apenas prolonga. Quero puxar de uma vez, nem que me tire junto um grito. Nunca gostei de tortura e muito menos de agonia. Nada de ficar vendo a agulha antes da vacina, a altura antes da queda. Me empurre e eu vou saber.

Eu vou pra lá e não vou levar ninguém. Preciso passar por isso sozinho, mesmo nas horas em que grito por ajuda. Se você escutar, finja que não ouviu. É puro desespero, eu sei que vou passar e sobreviver. Eu sei porque já tomei muita porrada e nunca fugi da briga. Eu sei porque um dia vou tomar uma cerveja e rir de tudo, vou achar que foi besta e que minhas reclamações eram pura fraqueza. No final, quando a gente chega à chave das coisas, entendemos o propósito de todos os fatos, e aceitamos. Mesmo sabendo que podia não doer tanto.

Não gosto que me apontem uma arma. Se quer me ameaçar, atire sem falar nada. É mais digno e rápido, só não é mais limpo. A vida não pode ficar nos encarando e coagindo. A gente pode querer dar o troco e fazer alguma besteira, dar uma de herói, de repente.

Chega.

Que o roteirista dessa merda venha logo a mim e a gente acaba logo com essa palhaçada. Menos diálogo, mais ação. Não quero saber de enrolação, quero preto no branco porque eu sei que cada cena tem um propósito. Eu gosto de vinho, mas ando sem paciência para decantar, ficar olhando contra a luz, sentir o cheiro, provar em pequenos goles para depois servir. Quero uma dose quente de whisky cowboy. E pra tomar em um único gole, de preferência.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

That's the way my love is

Um toque tão leve como acariciar pétalas de rosa,
a pele desliza na outra pele e transcende.
E de tão bela e perfumada, tão necessária,
olhar para alguma flor já seria gesto de infidelidade.

Às vezes Deus manda um milagre de cura,
às vezes manda um olhar e prova sua existência.
Ela é assim, a junção do que é belo no curto sopro da vida,
que me faz devoto, me faz pecador se penso em tristeza.

E quando num riso me desarma por completo,
quando num toque de lábios se adentra na minha alma,
consegue alcançar meu coração com suspiros.
Um coração que já não bate, apenas sorri.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

I used to be a little boy

Não. Eu não quero voltar à infância como muita gente fala. Até sinto nostalgia, mas não consigo querer voltar àqueles tempos, por mais que a vida parecesse mais tranquila e a maldade menos evidente. Claro, esta parte da minha memória continua gravado na minha mente com muito carinho, lembranças que me fazem sorrir sempre que encontro com elas. Sem falar nos bons amigos, aqueles que compartilharam momentos de bagunças, notas altas e baixas na escola, voltas de bicicleta no bairro e tantos tombos na vida.

Mas a gente passa pelo que tem que passar e cresce. E, de repente, passamos a não nos preocuparmos com notas na escola e pensamos nas notas de dinheiro, direta ou indiretamente. A gente pensa em emprego, em aprendizado, em desenvolvimento. Em namoros, carros, barzinhos, shows de rock e camisetas. Aí começamos a pagar nossas próprias coisas, as necessidades mudam. E, quando percebemos, acabou o colegial, acabou a faculdade. Olhamos para o mundo e percebemos que enfrentamos tudo sem parar pra perguntar uma vez se estávamos preparados.

Se precisasse, faria tudo de novo. Exatamente como foi, até os erros. Porque aprendi. Já disse, não tenho vontade de reviver, mas não tenho arrependimentos. Aprendi o que tinha que aprender, tantas vezes é difícil entender o motivo das adversidades antes de superá-las. Mesmo tendo vencido várias vezes, toda derrota derruba, todo pessimismo é sempre pouco. Afinal, é normal questionarmos o sofrimento, é natural sempre almejarmos as mudanças mais positivas e o fim definitivo de problemas que insistem em nos incomodar de forma recorrente. E viver é isto, são os altos e baixos, as memórias e os ombros amigos. As confissões matinais, as confidências ao telefone, o pedido de ajuda envergonhado. Viver às vezes é uma chatisse, é um desânimo ao acordar. Mas, acima de tudo, viver é recompensador.

Nossa, como foi boa a minha infância. Tive o privilégio de crescer no interior, de conhecer animais além das figuras de livros. Viajei mais do que muita gente grande, acompanhei de perto os ofícios do meu pai. Mas, de alguma forma, eu olho praquele garotinho que sempre teve curiosidade de saber o futuro e não tenho vontade de sê-lo novamente, pois levo para sempre uma certeza: ele odiaria se um dia eu desejasse voltar e perdesse todas as experiências que ele sempre quis ter.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ramble On

De repente, numa virada de olho, ele ganhou vida. Num ato trivial de um dia ordinário, no caminhar moribundo de pensamentos vazios, de uma cabeça que estava distraída, que de repente prestou atenção em uma figura que já tinha visto milhares de vezes, assim, na capa de um livro, e então sentiu algo que não sentia há tempos. E daí ele já sabia o que fazer, mesmo que a solução fosse o inesperado, o surpreendente. Não adquiriu mais conhecimento, mas, talvez, fosse um instinto que acabara de despertar em sua pessoa.

Assim, alguns medos foram deixados para trás. Esqueceu-se também de frustrações de outrora, de dores que já cicatrizaram mas ainda continuavam a incomodar por força do hábito. Experimentou um pouco da falta de noção e então lançou-se sem cordas e sem querer voltar. Buscou com vontade o fundo do poço, sem saber. E quando chegou lá, descobriu que não havia vergonha, que não havia nada mais a proteger ou zelar. Então riu de tudo, de todas as merdas que tinha feito. Descobriu que havia se maltratado porque merecia, para deixar algumas vaidades de lado. Pois as vaidades são grandes parceiras do medo, e chegam a fortalecê-lo.

Como forma de um grande pacto, prova de mudança e marca que o lembraria sempre do que o fazia respirar, do que o faria atravessar mares e oceanos. A prova de que tudo é só uma questão de querer. E foi o momento em que teve certeza, em que cumpriria o que planejava há mais de ano. Ainda houve colaboração externa, quando um sinal serviu como afirmativa e deu a largada para que ele estampasse aquele símbolo em sua própria carne.

Ele seguiu confiante, mudado. Andando no escuro, mas com a certeza de que rumo tomar. Estava ali, novamente arriscando o pescoço, mas desta vez de guarda baixa e cabeça erguida. Em sua frente, a chuva o aguardava. Em meio ao temporal, ele saberia andar com firmeza.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

And our lives are forever changed

Um dia, você acorda pela manhã e descobre que a vida tem um cheiro. Cheiro de aconchego, de colo, de ombro que recebe seu rosto quando ele precisa repousar e esquecer que existe outra coisa lá fora, que o mundo às vezes dá desgosto e que o cansaço aparece. E a gente flutua, seja numa manhã ensolarada ou chuvosa, e a preguiça nos acomete por estarmos tão relaxados. E assim, à vontade, podemos amar, podemos sorrir e ter esperanças. Podemos enxergar a beleza e sentí-la encher nossos corações, de tal intensidade que ele acaba transbordando em um grande e involuntário sorriso.

Com o tempo, a gente aprende o quão bonito é tudo, e os motivos de cada fato que nos empurrou até a linha em que o destino vai escrevendo os fatos, e quando a palavra encontra esta linha a realidade nasce, trazendo consigo surpresas e algumas certezas que precisavam ser reafirmadas. Porque as palavras têm que ser renovadas a cada dia, o aconchego tem que sempre existir para nós, as mãos que uma vez foram dadas têm que se selar num pacto eterno e cotidiano, pois o caminhar é longo e muitas vezes teremos medo e precisaremos apertá-las. É necessário ter sempre aquele espelho, que vai repetir o quão bela foi a história, que vai narrar os feitos sempre que precisar, que vai ser um amuleto que recorda a iminência da felicidade.

Assim, quando estiver distraído, empurrado pela inércia e envolvido pela serpente que é a rotina, respirar fundo e acidentalmente sentir aquele cheiro nos dá força para fugir da constrição, e fazer nossos próprios movimentos rumo ao nosso desejo. Mesmo que ele apresente-se como uma estrada incerta, como uma alternativa subjetiva, andaremos por ele e exploraremos até atingirmos a satisfação, porque é assim que devemos prosseguir quando nos falta gosto à boca.

Nós precisamos de um ponto de equilíbrio para, de vez em quando, desequilibrar. Mesmo que este ponto tão importante seja ao mesmo tempo próprio nosso e tão externo a nós. Ele estará dentro de outro olhos, pulsando em outro coração. Será partilhado não como pão, mas como ponto de união que transforma um em dois, que promove um intercâmbio tão forte que parte de si dispersa, mas volta renovada de energia, depois. E, depois de encontrá-lo e confirmar todas as suspeitas. Depois de comprovar e perceber o bem que faz. Depois de descobrir que a vida tem cheiro, sabor, textura, cor, trilha sonora, movimento, bondade, surpresas, certezas, fatos, sensações e suspense. Depois de descobrir que algo mudou, e esta mudança não para, é constante e positiva, é firme e sólida, é necessária e mútua. Depois disso, viciamos. E então, lembramos que, depois disso, cada dia é um dia mais do que especial.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Believe

O que você diz, quando encontra em um riso o grande propósito das lágrimas? De repente, você percebe que tudo valeu a pena pra ver esta pequena flexão de lábios, que pode ocorrer por qualquer motivo besta ou trivial sem perder em si sua luminosidade, mas sabe que está acontecendo por você.

Aí você se lembra de que um dia pensou em desistir, que molhou a ponta do pé e teve medo de pular na piscina, pensando que a água era gelada e subestimando o poder do sol. E ri secretamente de medos bestas que teve, de quantas vezes deixou a esperança escorrer entre seus dedos e seu coração, e quando até se revoltou acreditando que tudo era uma grande bobagem. Em contrapartida, por vezes ainda presencia tudo acontecendo e se belisca, custando a acreditar que finalmente tal felicidade chegou.

Existem vários discursos flutuando por aí, e acreditar neles não é uma questão de confiança. É uma questão de crença própria, de aguentar firme esperando aquele navio que talvez ainda nem apareça no horizonte. É fazer sinal sem ser resgatado, mas continuar gritando sempre que escutar algum sinal de vida por perto. É saber que se pode respirar debaixo d'água, e fechar os olhos e continuar andando, com passos certos e confiantes.

Então, num dia desses, banal como qualquer outro, você poderá levantar suas pálpebras para deixar a luz entrar e, de repente, se deparar com uma imagem encantadora formada por uma claridade única, em forma de lua crescente que se abre ao ver sua imagem. E perceber que outras mãos guiam a sua, e que você flutua numa dança mesmo sem saber o ritmo. E aí você sorri de volta.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Perfect

Ele ainda se lembra do cheiro de expectativa no ar, de cada batimento que acelerava quando havia aquela possibilidade de surpreender. E pensar dia após dia como surpreender, como arrancar um pequeno sorriso que fazia valer seu dia. Às vezes, tudo aquilo tinha que ser de improviso, com aquele tempo mínimo e poucos recursos para execução. Mas era nesta correria que as coisas mais inesperadas saíam, e a recompensa sempre era grande.

Havia momentos em que passava o dia inteiro planejando. Vendo e revendo diálogos, em busca de algo que tivesse passado batido, que ela tivesse dito e fosse uma das suas coisas favoritas ou experimentações ainda não realizadas. Algumas vezes, era até no chute, presenteando-a sem saber direito seu gosto, com a expectativa a mil, com o medo do erro e louvor do acerto. Assim, quando o dia começava a se esconder, quando eles iam se encontrar, ele tinha que ter algo em mente.

Neste caso, e como em toda história de amor há de ser, a recíproca era verdadeira. Aquele sorriso surpreso muitas vezes cedia espaço a uma certa marotagem, para que, furtiva, a menina também arrancasse interjeições sobre o inesperado. Ela soltava recados misteriosos durante o dia, para arrancar a curiosidade dele, morrendo de vontade de contar e segurando o máximo para não entregar o ouro. E funcionava. Ele morria para saber o que ela estava aprontando, qual seria sua próxima, o que seria a resposta para cada frase enigmática. Fazendo isso, de forma inocente, eles nem perceberam que tinham se tornado grata surpresa um do outro.

E algumas surpresas de final do dia, viraram, algumas vezes, surpresas da manhã. Palavras doces, uma visita inesperada de manhã, ou até a descrição de um sonho. Às vezes um pequeno desenho que só tinha significado a eles, ou mesmo um convite para um almoço. Pequenas manifestações que eram combustível para um dia inteiro de alegria. E, em vez de esvaírem-se de criatividade, eles foram tendo ideias cada vez mais extraordinárias.

Um dia, ele planejou a noite perfeita para levá-la a um lugar com o qual ela sempre sonhara, mas nunca tinha ido. Não a levou de surpresa, pois não tinha como, ela tinha que se preparar. Não levou nenhum presente nem mimo, pois o que queria entregar a ela era aquela vista. E quando a estavam apreciando, vendo tudo o que era belo sob seus pés, o rosto dela conseguiu ser ainda mais maravilhoso. Eles se entreolharam e tiveram a certeza de que eram perfeitos um para o outro. A verdadeira surpresa tinha acontecido há muito tempo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

No one around

A espera foi longa, porém, necessária. Ao chegar, ele não a viu. Estava tão preocupado em encontrá-la, que, afoito, mirando distâncias maiores, não viu que já tinha passado pela garota. Assim, após poucos passos e empurrando seu carrinho de malas, ele escutou seu nome. Era aquela voz que tanto fazia falta, que ele estava ansioso para escutar. Estremeceu e virou meio perdido, procurando por ela. Desnorteado pela emoção e pela atmosfera diferente, viu a garota caminhando em sua direção, com sorriso no rosto e lágrimas nos olhos.

Abraçaram-se.

Na cena seguinte, as malas foram esquecidas, o chapéu estava no chão e os dois se abraçavam e beijavam como se uma guerra os tivesse separado. Nunca mais queriam tanta distância, que tanto multiplicava as saudades. Estar nos braços um do outro era o maior conforto, era o lar de ambos. Ele respirava fundo e curtia o momento, especialíssimo. Como era bom voltar!

A cada momento que olhavam para o lado, voltavam a olhar o outro sorrindo, como se quisessem gravar aquelas expressões para sempre. Como se estivessem reaprendendo como eram seus rostos, e havia naquele momento um prazer infinito em estudar e analisar o rosto do outro. Quando as mãos tocavam as bochechas, cada palavra desencadeava um sorriso. Então, de mãos dadas, eles viram o ônibus passar, e ele carregava no nome um pedaço da história de ambos. Qualquer que fosse o momento especial deles, estas coincidências estavam presentes, só para fazer parecer ficção.

No caminho, mesmo tendo que olhar para frente, eles se entreolhavam. Tudo valeu a pena, e eles nem se lembravam mais das lágrimas da despedida. E ali, com as malas esperando para serem retiradas do carrinho, com o sol leve sobre suas cabeças, no meio do nada e sem testemunhas, eles seguraram a mão um do outro e sabiam que estavam felizes, mais do que antes, numa afirmação de amor certeira.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Everybody Learns From Disaster

Já vem a primavera, para preencher de cores a paisagem melancólica toda de traços em escala de cinza, que clama e grita pedindo algum rompimento. Sobretudo, além de bela, é pura, pois para renascer a gente precisa de beleza inocente, tal qual aquele sorriso de quem acorda depois de um sonho intenso. A cidade espera que ela pouse delicada, com o deixar do inverno, como borboleta em pétala de flor. Que nos cerque, esvoaçante, e, devagar, venha descer com asas coloridas que batem sutis no jardim.

Não, a estação fria não é feia. É bela, mas tem beleza séria, quase triste. Se fosse música, certamente seria aquele blues que, impiedoso, toca fundo sua alma, e chora triste como o último canto de um belo pássaro. Para romper com ela, tem que ser mesmo a primavera. Carregada de juventude e fértil, toda sorridente e enfeitada.

Talvez esta seja a passagem mais importante. É a transição da vida, o rito entre o fim e o começo. E, nesta etapa, eles ficam invertidos, pois o fim é a etapa anterior. É o fim do fato que nos faz aprender para o começo das atitudes que vamos tomar dali pra frente. E elas vão amadurecer no verão e outono, só sobrando as sementes e raízes mais preciosas para o próximo ciclo.

A primavera está chegando. E nosso jardim vai devolver todo carinho que nele depositamos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Need

Eu só preciso de uma lembrança boa para esquecer as ruins. Só preciso de gotas de chuva para que o calor pare de incomodar. Eu só preciso de mãos firmes segurando as minhas, quando um vendaval está vindo, ou um pedaço de doce para tirar o amargor da minha boca. Eu só preciso de inspiração em dias brancos, um sorriso em dias tristes e um ombro pra descansar às vezes.

Eu só preciso de palavra pra cortar o silêncio, de um lápis para riscar o papel. Eu preciso de paciência quando estou chato, de conforto quando estou triste. Às vezes eu também preciso gritar, dar socos na parede, bufar de raiva e chorar as pitangas da maneira mais inconveniente. Eu só preciso de paz emprestada, de tranquilidade, de espaço pra pensar.

Eu só preciso de um beijo seu no fim do dia.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Rock n' Roll

Os instrumentos estavam abandonados. Há tempos ninguém mais entrava naquela sala de ensaios, que já estava escura e empoeirada, entrando apenas um fecho de luz fraco, que ainda enfrentava a penumbra. As baquetas em cima da caixa surrada, os pratos ainda arrumados do jeito que ele gostava. Depois de dar as últimas pancadas, enfurecido e tirando um som que ninguém mais conseguiria tirar, foi se deitar no quarto. Depois disso, apenas acharam seu corpo estirado, com uma garrafa de vodka do lado. Muita gente chorou no enterro.

Estava acabado. A morte de um bastava para que aquela formação se desfizesse, até por respeito. Não daria mais para a música ser perfeita sem ele. Tempos quebrados, espetáculo, solos invejáveis e um barulho que só ele arrancava do intrumento. E como aquilo inspirava os outros, gênios, gigantes que caminhavam e não tinham limites. Mestres no que faziam, capazes de hipnotizar multidões com performances arrebatadoras. E o povo sempre pedia mais, não queria que eles saíssem do palco.

As pancadas fortes, o ecoar de pratos, a guitarra arranhada, o baixo que caminhava perfeito sobre a música e os gritos agudos formavam a palavra universal, escrita com o número de letras compatível com o número perfeito de integrantes... Apenas 4 letras, formando verbo e substantivo: rock.

É verdade, a sala estava abandonada, e eles reuniram-se poucas vezes para tentar fazer magia novamente, mesmo sem ele. E passaram-se anos, décadas desde o auge. O mundo já era diferente daquele que eles dominaram, as pessoas e as questões filosóficas. Mas alguma coisa ainda sobrevivia, o espírito da música que era passado de geração em geração. E onde há um menino com uma guitarra, ainda há música para ser tocada. Mesmo que ele esteja aprendendo os primeiros acordes, mesmo que daqui há uns anos ele não suba no palco e viva uma vida normal. Um sonho esteve em seu coração por aquele tempo, e toda esta paixão basta.

Muita coisa foi deixada para trás. Mas ainda existem milhões que vivem o sonho. E, em contraste com a sala de ensaios abandonada e escura, há uma salinha de música simpática e iluminada. Lá, como nos velhos tempos, uma agulha risca um vinil. E há um casal apaixonado deitado no tapete, dando beijos embalados pelo som e deixando com que o ritmo intensificasse seu amor.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Immigrant Song

Fora da janela, há inúmeros e fantásticos caminhos a serem explorados. Mas, para conhecê-los de verdade, há de saber viajar. Esta habilidade é muito mais do que conhecimento de línguas ou a ciência de fazer uma mala completa. É mais do que pegar o trem certo na hora certa, ou tirar centenas de belas fotos. Viajar é um indescritível prazer.

Com ou sem companhia, é importante nunca estar sozinho. Saber, antes de partir, colocar o que importa dentro de uma caixinha, para, depois, abrí-la a qualquer hora. Viajar é, além de absorver o lugar, levar um pouco de sua existência. O bom viajante deve também andar acompanhado das suas saudades, pois, quem sabe viajar, sempre deixa algo importante a que retornar.

Ser viajante também consiste em criar sua própria mística, ter suas crenças e amuletos para que tudo dê certo. E, se não der, ter quem ore por ele para que retorne são e salvo ao lar, com as histórias que coletou no seu percurso.

Para viajar bem, há de saber amar o sol, mas principalmente a chuva. Quem conseguie apreciar um dia cinzento nunca se frustrará enquanto estiver na estrada.

Quem almeja fazer boa viagem, também precisa ter sensibilidade. Tanto para se apaixonar por uma parede de tijolos ou o mar, quanto para sentir as energias de quem o espera. Só assim pode-se estar em vários lugares ao mesmo tempo, e regar suas rosas apenas pedindo pequenos favores às nuvens. Ao retornar para seu lar, ele as encontrará belas e coloridas, desabrochando-se em sorrisos para recebê-lo.

Por fim, ao viajar, deve-se explorar os terrenos mais obscuros dentro de si. É procurar respostas, segredos e chegar a conclusões verdadeiras. Mais do que aprender sobre o mundo, um viajante deve aprender sobre si. E, assim, descobrir para qual lar retornar e os tesouros que vai levar na sua mala.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Little drops of rain

Leve como uma nuvem, a imagem dela paira relembrando aqueles momentos maravilhosos em que nenhum dos dois tinha pressa de nada, apenas queriam que o tempo passasse devagar para aproveitarem mais a companhia um do outro. Ele precisava muito incorporar essa leveza, pois assim deveria traduzir tudo que via sem demasiados detalhes. Estes, deveriam ser preenchidos com a capacidade alheia de imaginar.

Ele sentou-se no banco, pois era um costume que tinha adquirido com aquela bela companhia. Era muito gostoso ver as pessoas passando, e muitas outras sentadas ao contemplar aquela paisagem. Aquela era a hora: respirar fundo, sacar a caneta, e riscar o papel.

Cada linha formava um contraste interessante: letras disformes e feias procurando palavras exatas e belas. Ele se eximia da responsabilidade de afirmar se teve sucesso na busca, apenas observava, lembrava e escrevia. O lugar dava paz, a brisa inspirava. Tinha vontade de dividir aquilo que via com o mundo todo, mas especialmente com ela. Porque tudo o que faz-se belo, tudo que encanta e arranca brilho nos olhos, tanto as pinturas de artistas renomados como os monumentos, sem esquecer das verdes montanhas e cristalinos rios, tudo isso pertencia a ela.

Quando iniciou seu trabalho, ele sabia. Descrever as coisas seria loucura. Deixe que as fotos mostrem uma imagem fiel daquilo. Ele queria mesmo era poder colocar no papel cada sabor, cada palpitada que sentia em seu peito cada vez que se deparava com uma novidade. Seu intuito nem era provar que aquele lugar, comparando, era mais belo que muitos outros. Mas, contraditoriamente, se conseguisse passar o que sentiu quando pisou ali, isto ocorreria como produto de sua obra.

Decidiu por concluir: lugar que enche os olhos e a alma. Perfeito para deitar na grama relaxado ou exercitar suas faculdades mentais. Lugar de verde e concreto, presente e passado convivendo em plena harmonia. Lugar que o sol tornava belo, mas a chuva afirmava sua beleza.

Pronto, nada mais era preciso. Ele fechou o caderninho e saiu para recolher pequenas gotas de chuva para ela.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

What did you see, when you were there?

O tempo passa, e, as impressões colhidas são as melhores possíveis. Não há de se confundir saudades com desgosto: são duas coisas completamente diferentes. As saudades de verdade só fazem crescer. Elas vêm para nos mostrar o real significado das coisas que, por vezes, deixamos passar em branco. E não há nada melhor do que recorrer à memória para transpor o que de bom passou às coisas presentes: sentir saudades é um contínuo exercício de utilizar a memória rebuscando tudo que há de belo em sua existência.

Semântica. Sim, pois tudo que se vê pode ser um grande vazio, um recipiente de impressões superficias que resultam em uma forma de admirar completamente oca. Mas, quando se atribui sentido, quando se busca a essência, o resultado se torna gratificante. É assim que se lida com a falta: buscando o gosto e cheiro das coisas, relembrando e aplicando ali, no que se vê. Porque a memória de algo que passou pode estar em uma cena nunca antes presenciada. E perceber isso é um grande passo para quem quer sorrir sempre, mesmo com a lâmina afiada pressionando seu peito sem piedade.

O tempo passa, e, as memórias ficam mais fortes. Porque o saudoso cultiva suas saudades como bela flor em seu jardim. Melhor ter do que recordar-se a continuar uma vida sem ausência, mas também sem preenchimento. Vivenciar e sentir falta é bem mais vantajoso, pois, a ignorância evita as saudades mas também ilude, dando uma impressão de que a vida é só aquilo e deixando sua existência passar sem conhecer alguma beleza.

O mundo estende os tapetes da grandiosidade àquele que consegue portar consigo a humildade. Pois, apenas as mãos humildes trabalham e sentem em si o gosto da terra úmida. Só essas mãos podem ter delicadeza e sensibilidade para amar o simples, e aí então saber discernir o essencial e o supérfluo do mundo. Na vida, todos havemos de nos apegar às coisas certas e entender o que de fato é uma oportunidade.

As saudades, sim, elas acontecem. Mas elas são um convite ao retorno, e todos sabemos a hora de retornar. E, quando em nossas mãos está a oportunidade de vivenciar novamente, temos que levar o aprendizado conosco para aproveitar cada segundo levando em conta o vazio que ficamos quando estamos distantes. Há de saber diferenciar, pois, cada momento da vida é cronometrado para as coisas acontecerem na hora certa. O retorno sempre depende de nós. E, antes de dizer adeus, temos que saber o que traremos da próxima vez. Viajar é mais do que aprender sobre o mundo. É o que aprendemos sobre nós mesmos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sprayed it with perfume

Pefume é cheiro que toca suavemente nosso olfato e nos encanta com força e suavidade. Pois o perfume bom tem personalidade, mas mesmo assim é sutil e não nos agride. Ele consegue nos seduzir com a coisa mais básica que precisamos fazer para viver: respirar. E todo mundo que quer manter-se em pé deve apreciar um bom aroma.

Como é mágico, o perfume. Nós conseguimos sonhar com olores, com uma sensação muito similar à que temos quando acordados. Eles podem ficar guardados num frasco, assim, protegidinho. Ou então desfilar por aí, envolvendo o corpo da mulher amada e dando aquele toque mágico a qualquer ambiente em que ela estiver. E o cheiro dela nada mais é que complemento e potencializador de sua beleza; ela não deve ser vistta apenas com os olhos, mas também captada pelo olfato.

O melhor é que o cheiro é muito pessoal e característico, mas ao mesmo tempo pode ser transportado por objetos e pelo imaginário. Sim, o perfume pode se impregnar em pecinhas de roupa ou pequenos mimos dados pelos amantes, como também pode embebeder-se na memória para nunca deixar o outro só. É recordação e presente, é sensação que pode ser levada em caixinha com fita ou pedaço de tecido.

Sim, os cheiros são fantásticos, maravilhosos. Mas o melhor mesmo é a imagem de seu portador, após um reencontro. Mesmo com regalos e recipientes, mesmo com a memória que busca o aroma e traz prazer similar, não existe maior gosto que retornar para sentir novamente o perfume nas roupas, cabelo e pele de quem exala um perfume tão especial.

terça-feira, 27 de abril de 2010

If this is heaven

A caixa estava aberta. O lacinho calmamente foi desfeito e, antes que a tampa fosse retirada, enrolado com cuidado. As mãos, ao descobrir a caixa, ainda seguravam a faixa de tecido macio com cuidado para que o rolinho não fosse desfeito. O embrulho tinha sido muito bem elaborado, e a combinação de cores era bela e significativa. Ele sorriu, sabia que o laço havia sido feito com sua cor favorita, e, quando viu seu riso, ela confirmou.

Depois de um pacote que enchia os olhos, o conteúdo da caixa era melhor ainda. Ela era repleta de palavras, que estavam guardadas com carinho. Foram selecionadas cuidadosamente, uma a uma, para compor aquele presente tão especial. Quando elas saíram da caixa, tinham cores vivas e toque de samba. Elas também eram afago, traziam um calor necessário ao coração e alma. Assim, quando a caixa foi fechada, mais de um laço foi atado.

Algum tempo se passou, e a caixa foi reaberta várias vezes. Algumas, para ter aquele banho de palavras novamente. Outras, para colocar mais histórias lá dentro. Até uma gota de chuva cristalizada ficou guardada ali. Na verdade, era tudo uma grande metáfora: guardava-se lá o que queria ele queria preservar dentro do coração.

A caixa ainda estava lotada de palavras. Palavras que não cabiam mais no coração. E, assim, cada vez que ela era aberta, um sentimento contagiava todo ambiente. Era como se declarações de amor fossem finalmente ditas. As letras viraram gestos e desenhos, e de repente havia uma história guardada. Não era mais necessário o laço, agora ele habitava o interior do pequeno recipiente de papelão. Cada vez que o coração se abria, cada vez que a tampa da caixa revelava seu interior, um sol nascia forte e aquecia o ambiente com beleza. E qualquer lugar onde essas palavras escapavam, em forma de lembranças ou declarações de amor, tornava-se o paraíso.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mountain of dreams

A janela surpreendeu com aquela paisagem de uma manhã perfeita. Não era só o sol ou o céu azul, era a paisagem como um todo, complementada pelo que havia do lado de dentro da janela. O dia era belo para todos, mas há de ser bonito para enxergar beleza. E, naquele momento, de coração aquecido e sorriso de paz, a plenitude espalhava mágica em qualquer coisa que ele olhasse.

Qualquer dia pode ser ordinário, mas é bom pensar que cada dia tem potencial pra mudar o resto das nossas vidas. E mudar para melhor. Este era um daqueles dias, pois as surpresas boas do mundo estão a nossa espera, espreitando em cada esquina ou entrada de metrô. Ele experimentava aquela sensação única inebriado, curioso para descobrir onde era o limite da grandiosidade de vida. Ansioso para saber o que o destino queria dizer com as coincidências e presentes que trazia consigo.

Por vezes tinha sido difícil compreender a felicidade das pessoas. Mas, naquele dia, ele não compreendia mesmo a tristeza. Em cada detalhe mínimo estava o gosto de viver, a felicidade simples da qual um dia falaram sussurrando no ouvido dele. E parece que foram palavras mágicas, pois, depois daquele dia, ele passou a enxergar. É como se descobrisse uma nova maneira de decodificar o mundo. Além disso, as suas coisas favoritas tornaram-se ainda mais prazeirosas, somadas com tantas coisas que ele nem imaginava existir.

Por fim, ele parou com as reflexões. Queria mesmo era curtir aquele sol, aquele feriado, aquele dia ordinário com potencial para ser especial. E não demorou muito para acontecer: um convite feito e aceito, um encontro marcado. Ela apareceu. O dia, o sol, a felicidade... Ainda que existissem limites para a beleza, ela transcenderia.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Whisper of the pain

Não quero que chores, mas, se inevitável,
que as tuas lágrimas molhem minha camisa.
E, se o mundo parar de fazer sentido e girar,
repousa tua cabeça aqui no meu colo.

Tua dor, quando intensa, atinge meu ventre.
E, se choras, quem rompe em soluços sou eu.

Espero que, tal qual tua dor seja minha tormenta,
meus carinhos sejam brisa tranquila que acalma.
E, meu abraço, leve nuvem que sustenta tua alegria.

Dê-me as mãos, e vamos passear pelos céus.
Eu a conduzo, guiado pelo verde dos teus olhos.
E, quando chegarmos às estrelas, não haverá mais dor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Measuring a summer's day

Devagar, com desenhos de traço suave,
um sorriso risca o belo rosto.
Ao romper a delicada face,
ele faz morrinhos nas maçãs do rosto.

Quando as maçãzinhas inflam,
apertam os lindos olhos.
E o mesmo movimento repuxa as bochechas,
que, rosadas, denunciam pequenas covas.

Mas, tal qual o romper do sol desperta o dia,
o sorriso rompe consigo alegrias no meu coração.
E me cativa este brilho imponente de beleza,
que, ainda assim, por natureza, resiste humilde.

Seja antes ou depois de um abraço,
no prólogo ou epílogo de um beijo.
Seja por felicidade espontânea de despertar,
ou pela graciosidade de ver minha cara de espera.
Sorria, pois, se não o fizer, não nascerá o dia.

domingo, 4 de abril de 2010

Wish you were here

O tempo carregou-os nos braços para um passeio incomum. Segurava-os de um jeito peculiar, e talvez mais ninguém possa dizer que foi carregado assim. Romperam os limites, afinal, em um pequeno aceno perceberam que se conheciam por mais tempo do que jamais daria para viver. E, neste sorriso mútuo, a ansiedade por um abraço só aumentava.

A vida é cheia de esperas, de encontros, de ansiedade. Mas muito disso acaba não valendo a pena. Em contrapartida, eles descobriram a fórmula. Valia a pena desde que um abraço sincero ou um cafuné viesse como esperado. Tudo era simples, por mais que eles entendessem os aspectos mais complexos da vida. Na verdade, estavam fartos era disso: de como as pessoas simplesmente complicavam tudo e esqueciam das pequenas coisas que traziam calma e paz.

E, quando separados, eram capazes de amar mais. A presença física dava lugar ao pensamento, e eles se materializavam para o outro em todas as coisas significativas. O desejo era uma ponte que diminuia cada distância, colocando a mão de um sobre o outro ao adormecer, carregando as palavras mais belas com o vento para balançar os cabelos.

Uma companhia de verdade é isso: a presença desejada, a vontade de compartilhar tudo de belo que sê vê e se prova. Certamente, um ainda iria mostrar muita coisa boa para o outro, além das maravilhas que descobririam juntos. E, quando se separassem, o desejo manteria a conexão. E o tempo carregaria os dois nos braços para juntá-los novamente.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sintonia

Os pés dela tocavam a água, recebendo carinho da espuma formada pela quebra de ondas. Enquanto isso, seus pensamentos conseguiam tocar um lugar bem distante e diferente. Que não tinha a paz daquele horizonte que contemplava, nem pessoas tão relaxadas e felizes como lá. Conseguiu tocar uma rotina desgastante, de nervos a flor da pele, desânimos e diálogos frios. Mas, mesmo com tanta turbulência, alcançou em pensamento aquele que pensou nela durante o dia todo.

Ela sorriu. Sentia aquela sintonia, rara e forte. Enquanto ele sentiu o mesmo frescor de pés que ela sentia, como se uma onda passeasse sob seu pé. O barulho do mar lembrava a chuva, e isso era muito importante. Eles conseguiam escutar o mesmo som, pensar e sentir as mesmas coisas. Havia uma ponte que transformava um em complemento do outro.

Momentos como esse aconteceram várias vezes naqueles dias. O sol e a lua estavam para ela, enquanto ele só conseguia enxergar nuvens. Mas não importava, quando ele a sentia, parecia que as palavras delas sussurravam ao seu ouvido e eles compartilhavam a mesma rede, tocados pela mesma brisa e recebendo carinho um do outro.

O problema era que, ao abrir os olhos, ele estava sozinho de novo. Mas tudo bem, ela retornaria, e traria consigo um beijo de paz. Estavam tranquilos, cada um fotalecendo sua alma de um jeito. Estavam se entendendo e percebendo as mudanças. A conexão se firmava junto com eles. Dividiam o mesmo ar, os mesmos sonhos e o mesmo amor.

domingo, 28 de março de 2010

Currents

Eu que já andei bastante neste terreno desconhecido sei o quanto ele é tortuoso. Mas sempre tive forças para atravessar. Tanta, mas tanta força, que simplesmente sei o caminho de cor e de olhos fechados. A gente sempre consegue seguir em frente quando tem um objetivo. Quando busca um sublime talvez inédito, quando crê na beleza que está do outro lado, de onde a luz vem.

Olha, a paisagem de lá é a mais bonita para quem sabe contemplar. Eu digo isso porque já vi e vou continuar vendo, sei que vou e minha confiança basta. Conselhos negativos e adversidades não vão mudar minha opinião. Olha como as flores nascem, e o verde é vivo. Quem vive na gruta desconhece a beleza e o som de uma cachoeira, e nunca viu a bela flor que pode, milagrosamente, nascer de um pedregulho.

E como é bonita a caminhada quando se aprendeu a andar. Como é bom nada temer, e, destemido, desbravar os mistérios sob o título de louco. O fluxo da correnteza é um, mas o destino do homem não é um rio. Somos livres para navegar e conhecer a felicidade em todas as formas. Só não estamos acostumados com isso.

Espera só, a próxima paisagem é linda, eu prometo. Não sei para onde o barco está indo, mas vai ser para o belo. Eu não estou errado, porque sei que a beleza existe. Ela é tudo para quem sabe apreciar. Viver a beleza basta. Viver basta. A beleza basta. E meu barco vai semeá-la por todos os cantos do mundo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Saudades

Quando ela está por perto, ele segura forte a respiração. A prende, abafando um suspiro inevitável ao vê-la. Mas, quando ela está distante, aí sim que a respiração fica irregular e seu corpo o trai. Uma pontadinha incomoda seu peito, o pensamento fica nela e até o olfato falsifica cheiros próximos daquele perfume. Um perfume sem igual, cheiro particular que só complementa aquela bela figura.

Quando toca uma música específica, a agulha extrai do vinil da memória o som da voz dela cantando aquela canção, uma de suas favoritas. E quando ele se deita, o espaço que sobra na cama molda o corpo dela, para que os braços deles busquem aquela forma sem se encontrar. Tateando o nada e abraçando o vazio, ele adormece. Daí todas essas lembranças tomam corpo em sonho, que o faz sorrir em uma inocência quase infantil.

Ao telefone, ele confessa saudades. Ela duvida só para provocar. Ele sorri: como faz falta cada pequena frase de provocação. É irresistível o riso dela realizada, a cada vez que ele comprova suas saudades, como réu indefeso que foge das marteladas por sua vida.

Então, ela retorna. Tudo aquilo que era passado caminha em direção a ele como futuro.O presente se resume aos lábios dela. E que presente!

terça-feira, 16 de março de 2010

If the sun refused to shine

Estava frio. Ela ficou sentada na calçada, encolhida, parecia esperar por algo. Silêncio. O único ruído era produzido pelo vento, que estava estranhamente calmo se você olhasse para o céu. Calmo sim, mas frio. Arrepiava como um beijo gélido na nuca, que a fazia estremecer e descruzar os braços, desengonçada. E, com o céu encoberto de cinza, um raio de sol mostrava que ele ameaçava despontar.

Como é bravo, o sol. Ele nunca para, e se altera pouco. Sabe que se aquecer demais pode ferir, e que se desaparecer decretará o fim de qualquer vida. E ele continua lá, acima, paciente, deixando o tempo passar. A verdade é que ele enxerga tudo, e, mesmo em silêncio, mandou um raiozinho beijar o rosto dela. A garota sentiu aquela ponta de calor e sorriu. Então, entre as nuvens, o sol desapareceu novamente, pois seu raio ficaria contido naquela pequena alegria.

Ela se levanta, espana a poeira da roupa e olha pra cima. Fica imaginando para onde ele pode ter ido, e o que deve estar fazendo. Se perde em devaneios tantos que o vento a envolve por completo, sem causar o menor arrepio. O coração dela estava aquecido novamente, dando a certeza de que a aurora brilharia na manhã seguinte.

terça-feira, 9 de março de 2010

Don't wait

Veja como o oceano é vasto. Tem muito para navegar e conhecer, calmarias e tempestades, ondas e continentes. Olhe para o mundo lá fora: oferecendo tanto, prazeres pequenos e grandes, pessoas, sabores, músicas e paisagens. E tudo isso é seu, apenas basta navegar. Deslizar leve sobre as águas, deixar o vento soprar suas velas e confiar na sua bússola.

São tantos prazeres por aí... Não vale a pena ficar no mesmo continente. Não, não vale a pena ancorar em um lugar e ceder à estagnação. Permita-se ao novo, às descobertas. Explore, tem tanto a ser visto e sentido. Tantas texturas que ainda não encontraram sua pele, tantas vozes que não chegaram aos seus ouvidos e tantas paisagens que vão ficar ainda mais bonitas refletidas nos seus olhos. Olhe para o horizonte: ele está esperando por você, e um vento perfumado estufa suas velas.

O tapete azul que se estende para suas aventuras é macio. Você está livre, veja até onde ele vai. Sim, há tempestades, há perigos. Mas você sempre vai poder ancorar num porto. Não há nada a temer, nenhum navio termina a jornada intacto. O importante é ter braveza, é seguir sempre rumo aos seus sonhos e desejos. E, na tempestade mais forte, seu porto seguro estará lá. Forte para você ancorar, aconchegante para você descansar. Não tenha medo de navegar. Porque, às vezes, o medo é mais forte do que a própria tempestade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Musas

É sempre tudo por elas.
As guerras, as obras de arte,
os triunfos e as lamentações.

É sempre tudo pra elas:
as flores, as culpas,
as dores de parto.

Elas são amor puro,
pois só deste ventre
que pode vir a vida.

E não é só o ventre:
no peito que pulsa amor,
também corre alimento.

São puras quando meninas,
misteriosas quando adultas,
perfeitas quando mães.

Em um toque, tornam-se necessárias,
inesquecíveis e eternas.
E quando se vão, viram perfume.

domingo, 7 de março de 2010

Dream on

Ela entrou no pequeno apartamento. Tinha vertigem, estava cansada. Entregue aos macios travesseiros, fechou os olhos na esperança de que o mundo parasse de rodar. Aconchegada e meio encolhida, não reparou que a lua subia devagar, à sua janela, para espiá-la. Aquela era uma cena meiga: deitada tal qual criança que vai dormir, afundada entre travesseiros e lençóis. Um riso gostoso de quem sonha inocente, naquele conforto pré-sono que combinava com seu semblante inocente.

A lua continuava escalando os céus, em busca de uma frestinha para espiá-la. Então, alguém fechou a cortina. Agora, o quarto estava escuro, a vertigem ainda não tinha passado direito. Seus pés voltavam ao mundo, mas em alguns momentos ela pisava em nuvens, e o deixava para trás novamente. Até que ficou com vontade de escutar uma canção.

Então, tal qual cortina de espetáculo, o pano que recobria a janela foi se abrindo lentamente. A lua brilhou mais, enviando lentamente cada faixo de luz para espiá-la. A canção era uma homenagem àquela observadora que subira tanto aos céus pra poder ver seu reflexo naqueles olhos. Com a música tocando, o momento fez-se perfeito. E a menina pisou novamente em nuvens, para dar um beijo na lua.

Enfim, a vertigem passou. A menina estava deitando novamente, mas a lua tinha sumido do céu. Era aquilo, a lua só queria um momento. O sono estava chegando, apenas as luzes da cidade iluminavam o pequeno quarto. Enquanto adormecia, a menina ganhava um cafuné. Mãos carinhosas que, como a lua, se envolviam com a meiguice daquele pré-sono.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dancing in the moonlight

Tudo começa de uma valsa inacabada. Uma dívida criada por motivos justos, a interrupção do momento para ceder a outro com igual ternura. As mãos se soltaram um pouco antes de perder o contato com os olhos. E um sorriso lindo, antes de se virar, viu um olhar de gratidão e admiração. Sentimentos que só cresceram depois desta dança.

Na verdade, talvez a valsa não tenha sido propriamente interrompida. Inacabada, sim, mas porque a dança ainda está acontecendo. Com a bênção de belo luar, os corpos flutuam em ritmo compassado e suave, num entrosamento como se os dois pensassem a mesma coisa e o elo delicado feito por uma mão sobre a outra fosse inquebrável. E como o mundo orquestra este número, fazendo com que o perfume poético pouse sobre cada passo sutil neste salão que parece deslizar.

A dança segue, com beleza e graciosidade. E a música não dá sinais de que vai cessar. Não enquanto a lua continuar bela, iluminando cada passo pousando seu abraço prateado sobre corpos que se juntam num abraço elegante. A valsa é isso: passos simples tal qual a felicidade. O segredo é continuar no mesmo ritmo, pisando juntos e aproveitando esta sensação de flutuar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Walk a while with me

De palavras no ouvido tece meu leito.
E não acredita que nasceu musa.
Humilde, peço que aceite estas palavras,
pois são suas, por direito de inspiração.

E quando pensar em agradecer,
lembre-se de que a gratidão não é sua.
É você que traz o ouro que vira joia
nas mãos humildes de um ourives de palavras.

No seu sussurro baixo nasce poesia,
como o dia desponta nos seus olhos.
E, quando segura minhas mãos,
me conduz pelo mais belo mundo das palavras.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

The ocean

Neste mar que nado, não busco o fim. Quero continuar flutuando, enquanto a água me refresca e me faz leve. Sigo assim, de olhos fechados, enquanto a correnteza me puxa e define meus rumos. Pulei nessas águas por vontade própria, sem esperar nada menos que um mergulho prazeiroso. Ele me carrega com tanto carinho, que esvazio minha mente enquanto passo pela paisagem maravilhosa. É tempo de aproveitar todas essas sensações, de tirar o melhor do momento.

Não preciso pensar por quanto tempo ficarei aqui. Na verdade, temos mesmo é que seguir as palavras do poeta e fazer disto infinito. Não me cabe determinar nada, só me caberá cumprir minhas promessas. Promessas que faço com certeza de navegante, pois a minha palavra é bússola que não erra. Meu norte é a sinceridade.

Sim, prossigo a todo vapor, sobre as ondas mais altas que possam surgir do inesperado. Continuo neste rumo, de aventura que me toma e me lança ao desconhecido. Nada temo, nem a dor do afogamento. Já mergulhei muito em águas menos límpidas, menos tranquilas e nada refrescantes. Deixo que este mar me conduza, sigo leve e em paz.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Fortune

Reflexo congelado nos olhos,
suspiro involuntário num abraço,
um rosto que sorri minha alegria.

Dedos entrelaçados com cabelos
que escorrem pelo rosto até o queixo,
um adjetivo próprio e com sotaque.

Brigada de muitos sonhos,
seja durante o sono ou desperto.
Sutileza que passeia em vestido branco.

Mãos que me puxam para cima,
que enchem meu pote de ouro.
E me abrem os olhos pra riqueza.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Tijolos

A cada tijolo colocado sobre o outro, a história ia se erguendo. Tijolinhos pequenos e tímidos indo de encontro aos céus, edificando sonhos que pairavam resplancescentes, feitos não em momento de miséria, e sim de fartura. Aquele era o lugar favorito, aquela era a companhia perfeita. O momento ideal, algumas jaleninhas abertas, com frestas de luz para que pudéssemos enxergar por trás dos tijolos. Podiam ter crianças ou apenas momentos bons. Podia ter comida boa e sem luxo. Era a simplicidade que guardava toda aquela esperança de uma paz de espírito duradoura e equilíbrio salvo num sorriso.

Pronto. A liga era aquilo, o entrosamento, a confiança. Um tijolo apoiando o outro, se entregando sem medo. Não importava o que acontecesse com aquela edificação: um levaria consigo um pedaço do outro, mesmo se algum dia uma fatalidade demolisse tudo. Postos juntos, teriam uma ligação eterna.

A rua era linda, calma. Estava ao lado de várias paixões. Respirava com vigor, e lá o prediozinho ficaria, com nome peculiar e arquitetura aconchegante. Nascera sem saber o propósito que teria, no quanto poderia nos levar a divagar sobre a vida. E a pensar e esperar coisas boas. E sorrir pensando que sempre dá para ser mais feliz. E dar boa noite querendo transmitir seus sonhos, sonhos tão gostosos que modificam o semblante durante o sono.

Ficou ali, o prediozinho simpático e ao mesmo tempo imponente. Seus tijolinhos amontoados eram apenas alguns degraus para subirmos e alcançarmos nossos sonhos. Eram jóia dada com carinho, que seria cuidada para sempre. Cuidada como se fosse uma vida, e respirasse. Porque é nessa simplicidade que ganhamos aquele sorriso que nos faz viver cantarolando e acordar sonhando.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A alameda

O que caracteriza uma alameda, por definição, são as àrvores que acompanham seu caminho. Porém, há uma alameda especial, onde podemos caminhar tranquilamente de braços dados, com a certeza da aparição de um banquinho providencial. Ela tem casinhas que lembram outro canto do mundo, e suas pequenas ruas nos recebem com sorriso de covinhas no rosto.

A alameda com sua tranquilidade, com pequeninos e simpáticos comércios bem peculiares. Coisas diferentes, coisas feitas à mão. Coisas simpáticas e rústicas que ganham valor pela simplicidade e bom gosto. Aquele lugar foi escolhido a dedo, com assentos tão convidativos quanto belos e sorridentes olhos. Ela tem perfume, e sua paisagem combina com leves vestidos para passeios em dias de verão.

Quando anoitece, a alameda continua tranquila. Ficam poucas luzes acesas, permitindo que nos aconcheguemos em um cantinho aproveitando a meia-escuridão. E os rostos se iluminam quando os faróis dos carros batem por poucos segundos, apenas para refletir intensos brilhos nos olhos. E a lua, imponente, ainda deixa cair seu prateado para banhar sutilmente as paredes do lugarzinho.

E então, a madrugada toma a alameda. E é hora de dormir com sonhos e planos, com passeios a curto prazo e promessas de retorno. É hora de despedidas longas, de lidar com a vontade de ir embora, de repetir incansávelmente a "última vez". É o início da saudade, da nostalgia que trará lembranças da nossa alameda. Mas a gente volta, fugindo da chuva, ou aproveitando um passeio à agradável luz do sol.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Aos formandos de PP 2009

Casperianos queridos, foi uma honra poder representá-los como orador do curso. Obrigado pelo apoio e toda a vibração, de verdade!

Abaixo, mais ou menos o discurso que fiz na colação de grau, para vocês se recordarem desse dia quando quiserem. Não dá pra reproduzir exatamente, mas não sai muito disso. Beijos!


Todos os dias eu encaro a folha em branco para encantar os desconhecidos. Para falar bem dos outros, para pensar em como emocionar, fazer uma ideia ser aceita. A gente pensa no simples e no mirabolante, planeja muito e tira soluções do nada.

Mas, pra falar sobre esses 4 anos de Cásper, não é preciso nenhuma folha. Na verdade, difícil mesmo é organizar os pensamentos. A cada hora que fechamos os olhos, nasce um novo texto.

Vocês se lembram de ontem? Nós éramos chamados de bixos e tudo era novidade: descobrir a existência do andar 3 e meio no dia da matrícula, se deparar pela primeira vez com uma quadra no 6º andar. Se apaixonar por uma bateria que dita o ritmo dos nossos corações em uníssono, experimentar as primeiras rivalidades do JUCA.

Ainda tiveram as baladas, mas é sacanagem pedir para que vocês se lembrem delas, porque todas eram “open bar”.

Então chegamos aqui. Éramos bixos e, de repente, viramos veteranos conduzindo um grupo todo pintado e melecado para o bar. Em uma velocidade absurda, chegamos ao fim, e tem um diploma com o nome de cada um esperando para ser entregue. Um pedaço de papel que você vai pendurar na parede ou guardar na obscuridade de um armário.

Mas não é isso que vai mudar nossas vidas.

O que vai mudar as nossas vidas são as madrugadas que passamos em claro fazendo tcc, ou aquele pesado livro do Kotler que carregamos pra cima e pra baixo porque nos falaram que era a bíblia. O que vai mudar as nossas vidas é o colchão de ar que furou no JUCA, ou as aulas de filosofia no boteco. Ou aquele projeto concorrencial que até agora não sabemos quem ganhou, ou a galera pulando na piscina nos churrascos.

Para nos tornarmos o que agora somos, foram necessárias muitas conversas importantes no escadão. Horas intermináveis de estresse na fila da impressão. E também a doutrina de professores com critérios “injustos, desconexos e aleatórios”, aulas sobre “qual o sentido da vida, seu desgraçado?” e professores que madrugaram ao nosso lado para responder a e-mails corrigindo os projetos.

E, por falar em projetos, de quantas coisas abrimos mão para chegar até aqui? Quantos amigos partiram para buscar seus sonhos em outro lugar? Mas nós que ficamos temos que ter orgulho. Temos que nos sentir privilegiados de conhecer nossos amigos e fazer parte de um grupo tão especial.

Por muitas vezes, fomos indisciplinados e travamos guerras com professores. E hoje em dia isso virou virtude, já que nos fez chegar até aqui. A gente não faz sentido, até porque a maioria das pessoas não entende o que nós fazemos. Ou como temos que ser adaptáveis a qualquer mudança social, cultural e econômica. Ou como podemos arrumar emprego tomando cerveja e até mexendo no twitter.

Nem tudo é tão maravilhoso como fazemos parecer ser. Nós criamos mundos fantásticos, mas a verdade é que apenas somos procurados quando existem problemas. E as pessoas ainda acreditam que trabalhamos brincando, porque a gente tem acesso a Orkut, facebook, lastfm e qualquer outra tranqueira no ambiente de trabalho. Mas a verdade é que a gente é obrigado a conhecer e experimentar qualquer coisa nova nova que apareça, pois pode ser a próxima tendência.

Por tudo isso, se não ficarmos espertos, rapidinho viramos dinossauros e seremos descartados do mercado. Então, a partir de agora, é bom fechar os olhos de vez em quando e lembrar dos 4 anos de faculdade. Fechem os olhos e deixem que essas memórias tragam consigo novas ideias. Porque é isso que vai mudar nossas vidas sempre que precisarmos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A lua da Mooca

Da minha janela não vejo lua,
mas ela é bela mesmo assim.
Dizem que está cheia,
e toda com sotaque de colônia.

A lua, do outro lado da cidade,
tão bela, mas de mim se esconde.
É uma lua diferente, repleta de emoção,
tal qual a paixão aguda pelo bairro.
Dizem que lá tudo é mais belo,
em um encantamento de voz que se faz argumento.

Quisera eu também ver esta lua,
simples, como as ruazinhas carinhosas.
Como as velhinhas com cadeiras nas calçadas,
e os velhinhos caricáticos e bonachões.

Essa lua eu ainda vou conhecer,
pelos olhos cheios de orgulho daquele bairro,
e de histórias pra contar.
Cheios do verde que eu tanto gosto,
cheios como a lua que eu não vi.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Thank you

O meu lar é onde meu coração mora, na brigada que construí com meus amigos. No lugar que tem as luzes com as quais estou tão habituado e das quais eu sinto tanta falta. E, uma vez lá, posso deixar meus pensamentos flutuarem no caderninho. Aquele lugar parece uma fonte inesgotável de inspiração, o perfume das musas para no ar e, cada vez que respiro, me vem uma nova e intensa ideia.

Ali é onde me permito ter rotina. Afinal, nada se repete. O contexto acaba modificando os fatos. Cada espera é uma espera, e nesse tempo o lápis nunca se cansa. Aí eu me dou conta de que, mesmo com prática, a grafia não se aperfeiçoa. Mas não importa. As ideias têm se aprimorado, e isso basta.

Então, me vêm os estranhos. Acho que atraio conversas com mendigos e hippies pelo meu jeito caipira, evidente. Mas tudo bem. O meu lar deve ser um canto de humildade. Mesmo que, por vezes eu tenha prazeres caros, a cervejinha na calçada é tudo que desejo em certos dias. Só faço uma pausa, escuto a conversa. Nego a esmola, desejo boa sorte. E, a alguns que realmente têm fome, arrumo o que comer.

Enfim, quando a companhia chega, cesso o momento de reflexão. Aí a conversa agradável e os risos trazem a outra parte do texto. É a brigada que meus amigos me constroem. Todos eles que já admiraram alguma coisa que escrevi devem saber que fazem parte daquilo. São eles que escrevem, que abastecem as histórias e desenvolvem o pensamento. São eles minha inspiração e talento. A minha brigada e o que me faz ter tanto gosto e tantos motivos para festar. E, a eles, serei eternamente grato.

sábado, 30 de janeiro de 2010

One more time

O mundo é meu, e o dia só acaba quando eu deixar. Está tudo aqui, nas minhas mãos. E, se me recuso der ir pra cama, é porque posso esperar mais um pouco pra sonhar. Por enquanto, quero continuar saboreando esse gosto de que fui até a exaustão do sorriso. Continuar contemplando este castelo, elaborado de sementes plantadas despretenciosamente, mas que germinaram com tão forte raíz, que se agarram ao solo e se elevam até o infinito, me carregando nos braços.

Só agora me dou conta de como sou rico. Tenho tudo, tenho um mundo. Sei o que falta, mas rumo ao infinito sempre falta algo. O importante é ascender sem parar, subir os degraus que outrora não existiam, mas precisam ser transpassados para continuar respirando. E é ótimo respirar, mesmo que as nuvens encubram as estrelas como o medo encobre a verdade. Tudo está atrás para ser desvendado, e num sopro pode-se limpar o céu.

Os motivos da vida se esclarecem no final. E tanta força só serve pra servir de ferramenta pra tudo que está por vir. É recompensador perceber que as respostas estão mais lúcidas, as vontades menos lúcidas, e a realidade nada lúcida. A única coisa que precisa fazer sentido é a exatidão, a precisão dos atos. Os fatos, no entanto, seguem na aleatoriedade que consome a rotina, pois planejar é desejar controlar o universo que não cede a meros desejos.

O mundo, entretanto, é de quem sabe disso e consegue o ter na mão. E este sou eu agora, com um mundo nas mãos e brincando enquanto puder. Ah, o dia já está acabando, por desejo meu. Mas, enquanto alguns perguntam se vale a pena, só consigo pensar em uma coisa: quero tudo uma vez mais.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

To chase a feather in the wind

Tudo que quero, agora, é me inebriar de alegria, de estupor. Ter tudo o que importa, tudo e todos, as sensações, a memória e a esperança. A leveza, como acordes flutuando no ouvido, como samba de sussurros, como respiração de poeta. E nessa métrica, mesmo de olhar perdido, mesmo de pensamento sem sentido, a sequência consagra verso, que consagra emoções e momentos; é brinde que se dilui em prazer e coroa o momento da mudança.

Em alguns momentos, é preciso ser leve como uma pluma no vento. Acompanhar cada oscilação sem perder a sustentação, flutuando e dando piruetas enquanto a poeira se agita lá embaixo. A verdade é que é hora de passar por cima de tudo, mas não atropelando. E sim subindo, sem fazer esforço.

Voltando ao solo, você sabe que as coisas vão acontecer. Um momento histórico, velado, aguardado. Uma paz diferente, de confiança, de quem alçou muitos voos e falhou em diversas decolagens. Algo que foi perseguido por tempos, mas só alcançado quando o peso se converteu em leveza e acompanhou uma trajetória tortuosa, mas que, acima de tudo, planou sobre ares de sossego. A pluma no vento, finalmente, pairou.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Futebol

Não é só um jogo. É aquilo que a gente faz depois de muito aquecimento. Depois de ensaiar as jogadas de palavras ambíguas e pequenas provocações que precedem a partida. Ele só existe com aquela tensão de não saber quem vai atacar e ceder primeiro. E também só é mágico porque não adianta apenas analisar o esquema tático do adversário ou depender do seu. Algumas jogadas ensaiadas podem até funcionar, mas é na improvisação que a mágica e o tesão despontam para o delírio geral.

Futebol é aquilo feito nos lugares mais incomuns. Basta um pouco de espaço e vontade do esporte para iniciar uma partida. E os pés acariciam os campos com suavidade, mas na hora das emoções intensas e batalhas acirradas eles cravam deixando as marcas do espetáculo.

O delíro, a emoção. Cada partida única, sem importar o retrospecto. Os regulamentos falhos, a lógica contrariada. A sensação de estar no topo do mundo, naquele momento em que só importa a peleja. O que acontece no campo é sagrado, e vai marcar os dois times talvez até por gerações. Pois é assim que as boas partidas se consagram.

Ah, o futebol. Pura emoção. Tudo aquilo que a gente faz, em qualquer canto. Com aquecimentos de "dirty talk" e finalizações inesperadas. E, num drible, aos 45 do segundo tempo, você pode ficar desconcertado mas ao mesmo tempo admirado. Mas é assim que a emoção e a expectativa se mantêm. E, quem sabe jogar, apenas fecha os olhos e corre para o gol.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Back in town

De repente, não há mais medo nem repúdio. Há saudades, e um sentimento de fazer parte daquilo. O espírito, em sua inquietude, finalmente mostra-se parte desse caos, pois precisa da agitação da desordem e do mistério do concreto para ficar completo. A paisagem é capaz de tocar o coração e a garoa resfria pensamentos, enquanto não enxergar através das muralhas tornou-se necessário para despertar os instintos de sobrevivência.

A calmaria foi abandonada. A paz, agora, só será obtida pelo ritmo frenético e pela surpresa da não-rotina que se faz cada vez mais necessária para matar o marasmo que nos traga como câncer. E a cidade é linda, mesmo com seus traços envelhecidos e desgastados. É mulher bela com cicatrizes que só mostram que batalhou e muito conquistou. Além disso, tem coração tão grande de mãe que nos acolhe, mas também não sem rigor de progenitora. Em todo seu explendor, ela ainda comemora cada ano de grandiosidade, sem esconder seu passado e muito menos as deslealdades do presente e do tempo. Ela chega a sua idade sóbria, lúcida e digna de grande respeito.

Mesmo quando a deixamos, ela nos espera de braços abertos. E nela podemos festejar, curtir e curar ressacas. Podemos encontrar luzes acesas a qualquer hora de qualquer dia. Ou ter o privilégio de transitar entre o desconhecido, passando por mosaicos de rostos e histórias que nunca vamos ler.

Sim, ela é complexa, e pode assustar com seu jeito de juízo e olhos repletos de memórias insanas, como uma tempestade pronta a se libertar. Ela pode nos cansar, nos deixar órfãos por algumas vezes e até ser fria. Mas ela também oferece felicidade, pois é uma cidade única. E eu estou de volta.

Beleza

Inútil é a clausura e a reclusão.
Solução mesmo é enfrentar o mundo.
Assumir que a dor nunca dói,
e abrir um sorriso rumo ao futuro.

O que toco há de ser felicidade.
Pois as belezas do mundo são inebriantes,
exuberantes e leves como plumas.

Não me importa a propriedade finita das coisas,
já que toda beleza tem morte certa,
mas pode ser eternizada em momento de verso.

A beleza pertence à nossa memória,
ao carinho das lembranças,
à sutilieza dos gestos,
à sinceridade dos sorrisos.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Alvorada

Existem épocas em que as sombras correm soltas, espreitando para agarrar nossos corpos, querendo plantar ímpetos de tristeza e desânimo em nossos corações. Mas, para expurgar todo este mal e impedir que lágrimas sejam mais intensas que sorrisos, o amanhecer nos presenteia com bela alvorada, resplandescente no céu que, com feixos de luz, aquece cada canto do coração e não deixa espaço para haver sombras.

E a alvorada pode ser um riso gostoso, embalado no ritmo de um sambinha que faz as pernas mexerem involuntariamente e convida a dançar. E aquele rabisco que evoca a música e faz a banda executar gentil pedido com rigor de ordem é nada menos que suave brincadeira em guardanapo de bar.

Também pode despontar, esta maravilha, por um brilho. Mas não o brilho de joias exuberantes, e sim por um abrir de olhos que não merecem clichês e ofuscam a beleza de belos brincos. Uma alvorada que pode se aproximar sem limites da sua retina sem causar o menor dano, apenas refrescando-lhe a vista nos mais chuvosos dias.

Não importa o que acontece no entorno. Existem raros momentos em que o horizonte é nosso, mesmo que por breve fagulha de tempo. E nesta hora não se pensa no seguinte, não se pensa em mares de problemas que estão prontos para nos submergir. A carroça da vida vai continuar trotando deste modo desenfreado, sem rédeas. Mas, enquanto esta aurora nos beija, não importa prestar atenção no caminho. Apenas respiramos fundo e deixamos a alvorada renovar nossa paz.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

What is and what shoud never be

Não adiantava mais se esconder, fazer de vítima e chorar. Está tudo acabado. De repente, um refúgio destruído, sem vestígios nem ruínas para reconstruir. A única coisa que havia sobrevivido à devastação era sua alma. Uma alma errante que buscava o conforto enquanto se escondia. A mesma alma errante que chegou àquele novo lugar, triste como um blues e amargo como um gole de whisky. Mas era ali que se encontraria, não queria mais conforto. Queria um lugar como aquele. E que acontecesse o que tivesse que acontecer.

A hora, agora, era de provação. E uma tranquilidade estranha vinha com aquela brisa noturna, sopro de luar. Uma mão invisível o tinha guiado até ali. Apesar do andar natural, ele sabia que não eram apenas suas pernas que o conduziram por aquele caminho. Não tinha portas do passado para fechar. Não tinha mais passado, na verdade.

Novos passos, o blues mais intenso e rápido. Mais pesado. Menos triste. Alguns intervalos, pausas curtas. Whisky sem pedras de gelo. Aquele era o novo ritmo. E o que desse errado, que se juntasse às ruínas antigas. Era hora de virar a página.