quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Uma puta mulher

Na primeira vez que a vi, achei que ela era um anjo. Mas não: era uma puta.

Não digo que era uma puta figuramente. Era puta puta mesmo. Fazia tudo por dinheiro. Dava, pegava no seu cacete, chamava de "amor" ou simplesmente fingia ser sua namorada. Aceitava até tapa na cara, se não ficasse marca e rolasse um adicional. Fazia de tudo. Atendia em domicílio. Era uma puta de uma puta. Só não aceitava tíquete restaurante, porque isso é inadmissível.

Voltando: na primeira vez que a vi, estava no balcão de um bar. O bar estava vazio, só nós dois, o cara mal encarado do balcão, o silêncio, um pingado e um pão na chapa. Ela se sentou sem pedir nada, sacou um espelhinho e retocou o batom. Tinha o rosto mais angelical que havia visto no mundo. A pele perfeita. Os olhos radiantes. Era 6 da manhã e eu tava de ressaca. Era 6 da manhã e a puta - porque posso chamá-la assim sem medo - estava cheirosa, exalando um perfume que nunca tinha sentido antes. Afinal, uma puta que tem gosto mais refinado que muita mimadinha que comi por aí.

Naquele momento, eu travei. Escutei uma mosca pousar sobre uma coxinha, o pano de prato secando o copo, a gordura que estalava sobre a chapa... E meu pau ficou duro. Duro como se eu estivesse acabado de acordar, e eu nem dormi, cacete. Duro como se eu tivesse tomado viagra, mas não que eu saiba como é a sensação. Duro como se nunca mais fosse ficar mole na vida, como se eu pudesse dar 10 sem tirar e mesmo assim continuar com meu falo apontando para o norte, pronto para o campo de batalha. E eu só queria ficar de boa, tava numa puta ressaca.

Ela descruzou e cruzou as pernas. Juro. Se eu fosse precoce, já tinha ido. E daí eu poderia dizer, com e sem ironias que rolou um final feliz na história. Mas não, só tinha eu, o cara do balcão, o pão na chapa, o silêncio e ela. Sabe o que mais tinha? Uma arma. Na minha cintura. E foi aí que nem pensei em mais nada. Mostrei o cano pra moça - que fique claro, a arma - e olhei para o mal encarado. Ele consentiu. Entrei com ela no banheiro, e não precisei mandar fazer nada. A puta tinha tesão num cara armado. Seria a melhor foda da vida se não fosse o fedor que vinha da louça castigada e rachada daquele muquifo. Confesso que beijei a boca da puta. Foda-se.

A vadia me deu seu telefone. Trepamos algumas vezes. Era estudante de moda de uma tradicional (e cara) faculdade paulistana. Fazia dieta, yoga e um boquete maravilhoso. Pagava a mensalidade absurda com sangue, suor e gozo, ainda mantinha um carro do ano e um apartamento em Higienópolis. Dava bom dia por porteiro. Doava dinheiro pra filantropia. Curtia os Stones e fazia cupcakes. Pra um fodido como eu, até que era um bom partido.

Ficamos íntimos, andávamos de mãos dadas no Ibirapuera. Talvez ela fosse mesmo um anjo. Mas não: era uma puta. Um dia ela apareceu com um chupão no pescoço, e então botei meu cano na boca dela. Que fique claro: o cano mesmo, não o pau.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

The Underdog

Nayara não queria levantar-se da cama. Céu ainda escuro como havia deixado no outro dia, esfregando os olhinhos numa longa despedida aos seus cobertores. Enrolou tanto que teve que se arrumar rapidinho, e quase esqueceu coisas importantes da sua bolsa na correria. Mas o dia correu tranquilo, como sempre. Ela ficava numa parte reservada do seu ser. Meio rejeitada por sim mesma, tímida, oculta, quase não existente. Mas estava lá, existia, arrastada para lá e para cá, vivendo o cotidiano apagada, sem brilho. Mas Nayara tinha fome de sair, de conhecer as coisas, e sabia que o Sol brilhava todas as manhãs também para ela. Queria libertação.

Não, ela não era inexpressiva, fraca ou nula. Ela apenas era reprimida, oculta. Mas se tinha essa sina de ser quase invisível, também poderia utilizar-se disso como um poder, uma nova forma de reafirmar sua vontade e, silenciosamente, ser persuasiva. Nayara era reprimido pelo racional, Nayara estava esquecida fazia tempo, mas não morta. Pelo contrário: nas sombras ela se fortalecia vendo o Sol, cativa em uma prisão gélida e nutrindo-se apenas de esperança, que, um dia, seria forte de novo e conseguiria enfim romper as amarras que a impediam de ser feliz.

A vida não era um presente para ser desprezado, seus dias não seriam vividos todos dessa forma e para sempre. Ela era forte, apesar de ser desprezada, de ser improvável, de ficar oculta e entrevada. Era um momento, uma fase, era um momento tal qual o que vivia todas as manhãs na condução até o trabalho. Um cochilo meio incômodo com vidros embaçados, mas por trás de tudo aquilo existia bela paisagem a ser explorada. Era só questão de despertar. Desperte, Nayara!

E assim fez.

Um dia, quase por acidente, conheceu outro underdog. Outro reprimido, outro aprisionado que queria explorar o mundo e gritar. Sair do cativeiro, se libertar. Eles se corresponderam. Eles vislumbravam juntos algo diferente. E, quando perceberam, sua imaginação conseguia livrá-los dos cativeiros. Pensaram tão forte na libertação que se pegaram, um dia, segurando mãos, de verdade. E continuaram imaginando, até que um dia perceberam que não havia mais cativeiro: apenas os olhos do outro.

Nayara era o sonho. Nayara era o amor reprimido. Era a chama apagada há tempos, era o impossível e imprevisível. Nayara tinha sido dada como morta, mas apenas estava oculta. Mas, invisível, ela soube esperar a hora certa de emergir e se reafirmar. Nayara é o que pulsa no coração de toda mulher que diz que não precisa de amor pra viver. Todos precisamos.

Nayara é a coragem, que, mesmo sendo subestimada, persiste em ter seus lampejos. É aquela que cedo ou tarde aparece, é aquela que não desiste por ser desprezada e maltratada. É aquela que existirá para sempre, que se apropriará dos seus sonhos mais ocultos e fará você sorrir e viver em um mundo que achava que nunca mais veria. Nayara é a negação que vira afirmação, simples e complexa, em sua pequena forma e rejeitada existência.


terça-feira, 25 de junho de 2013

Viva la ruivolución!

Da inércia eu saí, do comodismo e sofá.
Saí de um tempo parado e tedioso,
em que nada captava a atenção de minhas retinas
para conseguir fazê-las enfim brilhar.

No reflexo de uma vitrine, janela qualquer,
emergiram seus cabelos incandescentes,
tal qual faz o sol todas as manhãs no horizonte.

Então você proferiu as palavras de Bukowski,
um molotov explodindo dentro da minha cabeça.
E, perante a descoberta de sua beleza poética,
nasceu um inédito ímpeto em minha vida.

Eu quero mais é que o mundo renasça em caos
pelo incendiário desejo desperto por seus cabelos.
e que as ruas sejam tomadas pela inquietude.
São as cinzas que farão um amanhã mais belo.

domingo, 2 de junho de 2013

Encontros Bizarros

A primeira vez que eles se cruzaram, nenhum dos dois lembra. Se forçar, ele vai lembrar que ficou intrigado por que raios no fim da primavera uma mulher usava um sobretudo. Sobretudo e botas, joelhos nus, figura estranha andando naquela movimentada avenida. Desconsiderando a vestimenta, seu visual era neutro. Qualquer um que olhasse pra ela falaria que seu nome é comum, sua cara é de conhecida e não conseguiria descrever nem os cabelos. Certamente, para os mais desatentos, ela passou despercebidas. Mas o olhar dele pousou sobre ela no exato momento entre um devaneio e outro. Acabou um pensamento, olhou para ela e partiu para o próximo. Assim seguiu a vida.

O segundo encontro dos dois foi ainda mais estranho. Era uma noite aparentemente comum, ele apenas planejava ficar quieto, talvez encontrar uns amigos e dormir cedo. Ultimamente, andava sem pique pra qualquer vagabundagem. E não que fosse um boêmio nato, ou sedutor barato, ou um homem da noite. Mas em algum intervalo entre os vinte e os trinta anos, a maioria dos homens tem um período de vida noturna, quer seja por instinto de caça ou mesmo arrastado pelos amigos. Acontece.

Mas, nessa noite específica, ele apenas queria descansar. Andava trabalhando muito. Andava ganhando pouco. Queria ficar tranquilo, economizar uns trocados. Nada de esbanjar, nada de ressaca no outro dia. Era apenas quinta-feira, e sexta era um dia longo para se trabalhar sonolento. Mas, por mais que tentasse, ele nunca poderia ignorar a lei universal que rege as quintas-feiras. Uns dizem que esse dia específico da semana tem uma áurea mística e leva as pessoas aos seus atos mais loucos. Outros apenas simplificam: "quinta é a nova sexta". De qualquer forma, é quando ocorre o inusitado. E uma pequena cervejinha com os amigos pode virar uma grande epopeia.

Lá estava ele num bar novo, pois a áurea do dia o afastou do boteco corriqueiro. O preço elevado da cerveja o fez partir para bebidas mais fortes, enquanto sua falta de grana o impediu de investir vinte reais em um sanduíche qualquer ou em uma porção de pasteis (8 unidades). Estômago vazio, a gastrite, mal de sua geração, reclamando. A vodka barata passeando pelo seu sistema digestório como uma marcha de grevistas na Avenida Paulista: lentos e barulhentos, prontos para ser dispersados de forma violenta. Enfim, lá estava ele, no mesmo papo furado de sempre com um velho amigo. Aí apareceu um conhecido, que resolveu pagar um drink a mais e... Puff, lá estava ele.

Era sua primeira vez em um prostíbulo. Não porque defendesse qualquer ideal contra transformar a mulher ou o sexo em objeto, mas simplesmente porque seu pudor excessivo o fazia ter calafrios (e não daquele jeito) só de pensar em diversas mulheres que considerava vulgares se esfregando nele. O ambiente pesado, os homens querendo mostrar poder liberando instintos primitivos. E... Aquele par de seios! Por um momento, ele ficou hipnotizado e, de repente... Estava lá. Com a cara enfiada entre aquele par de seios, em uma cama barata que rangia, os gemidos do quarto ao lado se equiparando ao abatimento de um suíno. E era ela, que não parecia tão sem-graça como no primeiro encontro, de cara maquiada, seios fartos (e siliconada), subindo nele como se fosse o último homem da terra. Pelo efeito do álcool ele nem desfrutou direito do momento, vomitou na calçada assim que saiu do lupanar e ficou com um rombo na conta bancária. Paciência.

E teve o terceiro e último encontro. Talvez porque 3 seja um número cabalístico, ou apenas por capricho do destino. Eles estavam no mesmo bistrô da Bela Cintra, em um sábado qualquer num horário meio tarde para se jantar. Ela porque mesmo no seu dia de folga o hábito já a impedia de dormir cedo. Então ia com um decote caprichado em lugares frequentados pela classe média pra ver se arrumava um freela com algum coroa carente e solitário. Ele porque tinha preguiça de pegar fila, e como tinha conseguido arrastar a estagiária do escritório para jantar, fechando o transporte público ele poderia convencê-la a ir para seu apartamento e talvez conseguir algo a mais.

Foi quando cinco pivetes entraram anunciando o arrastão. Mandaram todos para baixo da mesa, com as mãos sobre a nuca, relógios, celulares e carteiras à frente. Ele atendeu prontamente, já que nem nos seus devaneios mais ousados pensaria em reagir a um assalto. Mas quando abaixou, deparou-se novamente com aqueles pares de peito, querendo saltar pelo decote da moça. Recordou então da noite mais louca da sua vida, de como perdeu a cabeça, de como desejava novamente estar com a cara entre eles. Pensou tanto, teve tanto tesão, que não conseguiu seguir os comandos dos bandidos. Eram cinco menores de idade armados, num misto de medo e sensação de poder. Gritaram e ele não ouviu. Sua mente apenas focava nos peitos. Foi quanto o mais estourado deles puxou o gatilho e espalhou seus miolos pelo chão do bistrô. Executado de forma horrível e brutal, ele ainda morreu de pau duro.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Distração

Apaixonado, ele se distraía.
Esquecendo-se, tropeçando.
- Ah, mas e o beijo dela?
Desse, ele nunca se esquecia.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Leveza

Meu coração parece que
se encheu de hélio e voou.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Primeiro poema do dia

Se me furtam algumas horas de sono,
ao menos presencio belo espetáculo:
a linda aurora do seu despertar.

Na leveza de um riso nasce o dia,
e os olhos me fitam com alegria
e flagrado eu tento disfarçar.

Assumo que seu sono eu velava,
e por mais estranho que pareça,
como conseguiria negar?

Você ri das minhas besteiras,
e me surpreende com um beijo:
é acordado que me ponho a sonhar.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Horizonte

Quem me dera ser astro imponente no céu,
pra ter sua atenção até nos momentos menos brilhantes:
fazer com que pare seus pensamentos ao me esconder,
ou que sorria no pequeno prenúncio da minha chegada.

sábado, 6 de abril de 2013

Teorema da leveza

A vida pode ser a leveza das palavras. E o pequeno aconchego particular de uma vista bela, uma caneca e uma máquina de escrever. O sabor doce e o calor que toma seu corpo enquanto o horizonte sussurra palavras no ouvido e inspira as pequenas mãos a empurrar as teclas para talhar frases magníficas, letra por letra. As mesmas mãos que sem trabalho nenhum conseguem transmitir tal sensação em pequenas mensagens cotidianas, como se tivessem o poder de nos fazer flutuar com sua delicadeza.

É como a beleza de um por-do-sol: um espetáculo esplendoroso que nos maravilha sempre que paramos para observar. E é na simplicidade que residem os grandes prazeres da vida, na nossa capacidade de amar um céu azul ou simplesmente escutar a sinfonia de uma manhã chuvosa, sob os cobertores. Ou entender o porquê de um copo americano, de uma mesa na calçada, de pequenas sensações e experiências que, de tão corriqueiras, nos fazem transcender.

Não tem bênção maior do que ser leve, e ter essa capacidade de tirar o peso das coisas em simples toques. Uma leveza tão grande que simples palavras tornam-se feitiços capazes de arrancar pequenos sorrisos no canto de rosto, sutis como suspiros, e que possuem sentido maior que as gargalhadas.

Propositalmente ou acidentalmente, essa leveza cativa e nos conduz como as diversas notas passeando por um jazz improvisado. Um jazz sem pauta mas que é executado em plena harmonia e sem perder o ritmo. Porque a vida não segue regras nem scripts, mas cada capítulo dessa nossa epopeia é orquestrado de forma majestosa sem ter obrigação nenhuma em fazer sentido. Não importa o desfecho, cada momento é único. E que seja sempre leve, permitindo-nos sonhar com paisagens, frases e bebidas, enquanto o pequeno chiado de uma vitrola ainda significar alguma coisa.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Pedido

Não seja tempestade que afunda meu barco,
tormenta que apavora minha tripulação.
Tão perto do meu porto seguro,
meu cais com esposas aflitas
que olham para o mar aguardando retorno.

Não seja a carta que me convoca à guerra,
que me troca a família por um batalhão.
Que interrompe meus sonhos com ataques aéreos,
e transforma minha quase-esposa em viúva.

Seja o pára-quedas que abre no último minuto,
o longo caminho de retorno para casa.
Diga sim às chances da vida e sorria,
e seja a marca imortal do herói de uma epopeia.

Ou então a sirene no fim de tarde da fábrica,
que diz ao operário rumar para sua casa.
E, mesmo exausto, ele abraçará sua esposa
antes de colocar sua prole para dormir.

Só peço que seja o frio no estômago,
a expectativa que precede o clímax.
A intensidade, a positividade, o "sim".
A singular beleza de uma pequena afirmação.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sick Love Song

Contam por aí uma história absurda. Uma história doentia de amor, que parece ser inverossímil. Todos que escutam questionam se isso lá é amor, mas se nem Camões conseguiu definir a palavra, não perderei meu tempo com debates pífios. Este é mais um conto absurdo de uma cidade grande, e qual delas não importa. Existe várias no mundo, e numa delas havia um sujeito que se achava um puta macho alfa, inabalável por qualquer mulher. Daqueles que arrastava quem queria pra sua cama, um canalha de marca maior, o tipo de tratante carismático que deitava e rolava na cama de todas, das mais modestas de beleza às mais deslumbrantes, das mais atiradas às mais relutantes. Também não quero entrar nessa baboseira de karma ou lição de moral. É apenas uma história, que, sinceramente, a graça dela é ser totalmente amoral.

Ele estava entediado. Ninguém topava sair numa segunda-feira à noite, por mais que seja o dia em que as coisas mais acontecem. Resolveu então parar no primeiro letreiro luminoso que sorrisse para ele. Como um velho lobo não precisava de ninguém pra caçar, solitário naquela noite ele uivaria à lua como um ode ao ritual primitivo que era seu motivo de viver. Ele havia nascido para aquilo, fato que foi comprovado no instante em que entrou no bar: todos os olhares femininos, até os das acompanhadas, viraram-se para ele.

Conseguia sentir o cheiro do medo, ele era uma ameaça a todos aqueles cães sarnentos que imediatamente se prontificaram a marcar território. Uns puxando suas garotas para perto de si, beijando-as com volúpia sem saber que naquele beijo elas viam o rosto dele. Já outros, preferiam lançar olhares intimidadores estufando o peito, inutilmente. Um lobo passeia tranquilo e sorrateiro, sem dar bola para os olhos de seus inimigos, mas sempre sabendo a localização exata de cada um. Ninguém conseguiria pegá-lo desprevenido.

Sentou em um canto do balcão e estudou o ambiente. Era um território novo e desconhecido, aprendeu a não se deixar cegar pela própria autoconfiança. Isso havia salvado sua vida várias vezes, e não seria diferente desta vez. Havia várias mulheres bonitas, mas em um dado momento viu de relance a mais deslumbrante do bar. Então todas as outras perderam a graça. O mundo havia ficado cinza e apenas as cores dela existiam. Aqui não faz sentido descrever o processo de sedução, pois foi um como outro qualquer, repleto de clichês, falsos movimentos e segundas intenções. Previsivelmente ele conseguiu seduzi-lá e saíram juntos do bar.

Foram para o apartamento dele, onde a química entre os corpos deles fez com que realizassem as maiores loucuras na cama. Não foi a primeira vez que esbofeteou uma mulher na cama, mas a primeira que ela parecia gostar de verdade. Quanto mais violento ele ficava, mais ela pedia para apanhar, e mordia e arranhava. Arrancou pedaços de pele de suas costas, mas ele não ligava. No outro dia, seu quarto parecia uma cena de crime, não sobrava móveis nem enfeites no lugar. Ele acordou numa ressaca pesada, atrasado para o trabalho, a expulsou de casa sem cerimônia nenhuma e tocou sua vida.

Mas no fim do dia uma tristeza começou a incomodá-lo, como se uma lâmina afiada o houvesse ferido. A princípio parecia não haver ferida, mas quando o delicado corte se abriu, revelou-se como uma profunda injúria que parecia sangrar cada vez mais. Depois de rolar na cama durante horas, ele tomou um táxi e retornou ao bar. A loucura se repetiu naquela noite.

No outro dia, ele não a expulsou. Tão terrível acordada, e tão meiga dormindo. Deu um beijo na testa dela antes de sair pro trabalho. Foi então que sentiu um arrepio na espinha: estava acontecendo. Uma mulher havia domado seu coração, e ele nada sabia sobre ela. Ficou incomodado o resto do dia, sem saber que tipo de desdobramento aquela história poderia ter. Quando chegou, o apartamento finalmente estava arrumado. Nunca havia arrastado um móvel para tirar pó, e agora tudo cheirava a limpeza. Ela estava esperando na cama de lingerie, e tiveram outra noite daquelas.

Na manhã seguinte reparou que ela havia jogado todas as suas roupas fora. Havia camisas e paletós novos, camisetas, bermudas, mas nada escolhido por ele. Começou a reparar que até sua pasta de dente havia mudado, o conteúdo de sua geladeira, e as toalhas tinham iniciais bordadas. Em uma semana a casa estava redecorada, era tudo que ela fazia enquanto ele ia trabalhar, sem imaginar com que meios pagava por tudo aquilo. Então ela começou a ligar 3 vezes por dia para ele, seus amigos já não o viam mais. E ele se sentia sugado, arrastado, mas não tinha forças para sair disso. Apesar de tudo, o sexo era espetacular.

Então um dia seu pau parou de subir, ele não tinha mais pique nenhum e ela parecia cada vez mais sedenta. Ficaram uma semana sem sexo, até que numa tarde ele chegou do trabalho e o apartamento estava imundo, sem vestígios dela. Ele nunca mais ouviu falar daquela mulher novamente, assim como nunca mais teve uma ereção.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Psycho Killer

O frio na espinha significa alguma coisa. Ela sabe que ele é um psicopata, pois há algo de muito estranho em toda a situação. Não está confortável, mas até agora não houve nada de contundente para fazê-la correr. Imagina que triste clichê: a menina que vive leve, tal qual protagonista inocente de filme B, sendo perseguida por um maníaco que a passos lentos empunha sua lâmina tão fria quanto sua consciência psicótica, e com obsessão calcula o golpe, coagindo-a até onde ninguém possa escutar seus gritos. Esse pensamento a incomoda e a faz ter cautela.

Muita gente passa por aqueles corredores. Determinado, ele vai até o fundo do estabelecimento, pois sabe que lá encontrará o que procura. Agora tudo é diferente, caminha com a perícia de quem já percorreu tal trajeto por diversas vezes. Lembra-se de quando era um amador, e o nervosismo quase colocou tudo a perder, mas por sorte saiu ileso. Ele sorri, pois era um dia de grandes ofertas. Com toda paciência do mundo, escolhe metodicamente qual a vítima do dia. Calcula peso e tamanho, considera todas as variáveis e apenas depois de tudo isso parte pro bote. Seu olhar havia se tornado preciso.

Ela segue sua rotina sem se abalar. Sabe viver sendo imponente, mas a passos leves para não ser seguida. Assim como um grande felino, que tem suas cores e belezas e ainda assim consegue espreitar, desaparecer e subir em árvores. Seus instintos são fortes, e não há predador que seja presa fácil. Ao inferno o psicopata, sua lâmina e seu coração frio. Se algum olhar pousar em suas costas, ela discretamente consegue ver sobre seus ombros e ficar alerta. E ali, com garras escondidas e olhar firme, ela sabe se defender e estraçalhar qualquer um que tente qualquer agressão.

Com a vítima embrulhada, ele espalha suas ferramentas sobre a bancada. Abre com cuidado uma caixa que contém seu xodó: uma faca enorme de lâmina reluzente. Liga uma música feliz, e cantarola enquanto afia a lâmina. Ele quer cortes precisos, quer que a carne não ofereça nenhuma resistência. É nesse pequeno processo artesanal que reside a beleza do que faz, filosofa. Precisa ter firmeza, mas, acima de tudo, tudo precisa acontecer de forma limpa para não estragar todo trabalho que teve até então. Olha de canto para sua vítima, solta um sorriso e seus olhos brilham. Sabia que havia feito a escolha perfeita.

Vira a página do livro e as letras começam a se embaralhar. Já nem lembra mais do pensamento que a incomodava. No fim do dia, o que importa é fechar os olhos e sonhar. Seu pensamento estava distante, sem imaginar o que há alguns quilômetros dali está acontecendo. Ela fecha a capa, coloca sobre seu criado-mudo e apaga a luz. Amanhã será um dia como outro qualquer.

Realizado, ele olha para sua obra. Num pequeno deslumbre de megalomania, considerava aquilo arte. Enche a taça de vinho, sente o cheiro que paira no ar, e, então, um cansaço bom toma conta do seu corpo. Tenso, ele espera pelo julgamento das pessoas. Então eles aprovam aquele maravilhoso corte de contra-filé, preparado com simplicidade mas muito capricho. Sorri mais ainda ao lembrar que fora chamado de psicopata: sua lâmina só tocava a carne já morta, numa devoção nada egocêntrica, e sim ao prazer alheio.

domingo, 10 de março de 2013

Pink

Era mais um dia quente de verão, tão quente que o asfalto parecia evaporar e queimar a sola dos sapatos. Mas ele não estava nem aí, apenas abriu a garrafa d'água, que também parecia suar, e tomou metade do seu conteúdo em apenas uma golada. Enxugou sua testa com as costas das mãos e parou encarando a avenida, à espera de que o semáforo segurasse os carros e permitisse sua passagem.

O relógio ainda nem marcava nove horas, mas aquilo parecia o sol do meio-dia. Talvez isso tenha fritado seus miolos, junto com aquela preguiça aconchegante de quem pouco dormiu, e ele começou a ver coisas. Entre os carros que iam e os que voltavam, os ônibus e caminhões, tratores e dromedários que trafegavam àquela hora, ele viu de longe um pequeno borrão que de alguma forma chamou sua atenção.

Levantou parcialmente seus óculos escuros para enxergá-la melhor, expondo sua retina ao azul tão claro do céu que mesmo fazendo de tudo para se mostrar de forma tão deslumbrante, ainda não conseguia ofuscá-la. E no espaço entre os veículos que passavam ele a paquerava, observando cada detalhe do seu jeito singular de se vestir, do seu corte de cabelo, e daquele sorriso inocente tão cativante.

Então finalmente o sinal parou os carros e estendeu seu tapete vermelho para que ele pudesse atravessar as duas pistas. Mas ele não conseguiu mover um músculo, parecia que sequer respirava. Imóvel, já com os óculos escuros postados novamente para disfarçar seu olhar fixo sobre a moça, ele observava como ela andava com graça enquanto o vento soprava seus cabelos no maior clichê que havia vivido até então. Ela foi se aproximando e diluindo o odor de monóxido de carbono exalado pela quantidade absurda de automóveis que transitavam naquela hora. Ele sentiu cheiro de banho fresco, de um perfume sutil e algo a mais que o hipnotizava a cada passo que ela dava.

Finalmente ela passou por ele, tão leve como se carregada por aquela brisa de verão. Ele quis olhar para trás, mas de repente achou que pareceria algum tipo de maníaco, se é que já não estava parecendo. Pensou por mais um segundo e resolveu seguir em frente, mas o sinal estava aberto novamente para os carros. Não havia outra escolha.

Virou-se e deu o primeiro passo atrás dela. Arrumaria algum jeito de descobrir quem era, ou talvez até pegar seu telefone. Ele era tímido, não fazia esse tipo de coisa, mas não podia deixar alguém como ela passar assim e ir embora. Deixou para trás todos seus medos e dúvidas. Totalmente movido pelo ímpeto, por uma vontade única de iniciar um diálogo, quase um desespero que vinha do seu âmago. Mas um desespero bom, que aquecia seu coração e dava esperanças. Não importava o que aconteceria dali para frente, o céu azul havia se tornado cor-de-rosa.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Girls Girls Girls

Acorda ainda com um cheiro suave de perfume espalhado pelo quarto. Ela está lá, de olhos fechados e sorrindo numa paz que arranca um pequeno suspiro dele. Tem tanto capricho com os cabelos, mas mal sabe que o jeito que fica mais linda é assim: despenteada com os fios espalhados pelo travesseiro. Então ele debruça-se sobre ela e dá um sutil beijo no rosto, para não acordá-la. Em resposta, mostra sutilmente as covinhas de suas bochechas enquanto sonha. E isso faz o dia valer a pena.

Era um dia da semana qualquer. As outras crianças corriam pelo pátio, enquanto eles sentavam tímidos apenas observando as brincadeiras. Ele desliza vagarosamente uma mão em direção à dela, que responde enrubescendo-se. Corada, a menina só pensa em sair de lá, o puxa pelas mãos conduzindo-o até o corredor deserto. Os lábios se tocaram numa fração de segundos, bem sutilmente, e eles não falam mais nada. Cada um vira para um lado correndo, num momento que ficaria marcado para sempre em suas memórias.

Seu pai não pôde ir. Mesmo assim, ela estava sozinha lá na arquibancada, gritando o nome dele mesmo sem entender nada sobre o jogo. Estava cheio de si, era sua primeira final. Coisa besta, brincadeirinha de escola, mas dava sua vida por aquilo. Fez dois gols, comemorou bastante. Para ela bastava essa alegria, esquecia das contas, do aluguel atrasado e do marido desempregado. Foi quando veio uma pancada desleal e ele sentiu uma dor como nunca havia sentido. Ele nunca entendeu como aqueles braços tão delicados o carregaram sozinhos até o carro em tão pouco tempo. Depois disso, nem sentiu vergonha quando ela desenhou um coração em seu gesso.

Por mais clichê que pareça, foi a marca de batom que o entregou. Estava fazendo aquilo há uns dois anos, até que baixou a guarda e se descuidou. Ela chorou, falou um monte, teve nojo dele. Era boa demais, não merecia nada daquilo. Mas ele enxergou tarde demais: apenas quando, de malas prontas, ela anunciou que ia para a casa da mãe. Levou as coisas, mas ficou o perfume, ficaram as fotos, a cama vazia e a saudade. Junto com o táxi foi um pedaço de sua vida.

Queria ficar deitado para sempre naquele colo. Mal conseguia acreditar que um pedaço minúsculo de vida residia ali. Agora os dois formavam um trio. E logo estariam escolhendo nomes, indo a diversos médicos, pintando o até então quarto de hóspedes de azul ou rosa. A vida era linda, e ele deu um beijo mais que apaixonado no ventre dela por isso.

Fechou os olhos e viu seu rosto. Viu seu corpo. Os pequenos detalhes que a faziam maravilhosa: os delicados brincos, a sombra nos olhos que dava uma certa seriedade ao seu rosto, uma seriedade traída pelo seu sorriso. Era meiga, mas a camiseta largada com um corte mostrando o sutiã davam-lhe certa seriedade. Os jeans rasgados entregavam um pouco de sua perna tão delicada. Tênis encardido e batom, uma beleza pra lá de contraditória. Um dia ele a conheceria.

Foi o dia mais duro de sua vida. Depois de vinte anos estava indo para a rua da amargura. Os amigos o convidaram para afogar as mágoas na cerveja, mas ele dispensou. Correu pra casa com vergonha, com lágrimas nos olhos e desespero no coração. No caminho, mal prestou atenção no trânsito, mas seu anjo da guarda trabalhou para que chegasse bem em casa. Já havia anunciado a notícia pelo telefone, mas ainda assim tinha vergonha de abrir a porta. Hesitante para girar a maçaneta, de repente a porta abriu sem seu esforço. A pequena veio pulando em seus braços, o enchendo de beijos como o herói que sempre fora para ela, toda inocente. Então seu coração ficou cheio de coragem e ele entendeu que tudo ficaria bem.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Too young to fall in love

Ela estava sentada de frente para a rua, e desviava seu olhar dos olhos dele toda hora para apreciar a paisagem. Aquela era uma conversa nada agradável, e ela em sua inexperiência achava tedioso lidar com tudo aquilo. Não queria mais explicar nada, apenas queria decretar o fim. Um atestado de óbito e nada mais.

Por mais que os momentos tivessem sido lindos, ele nunca tinha sido nada demais. Foi sim, até certo ponto, bom pra ela. Mas apenas bom, não foi ótimo nem espetacular. Mediano, medíocre, uma chama quase apagada que nunca queimou em fogo ardente de paixão. E agora era hora de encerrar tudo aquilo, um relacionamento sem propósito, uma dupla que não se entrosava e apenas queimava o tempo e perdia preciosos minutos que podiam ser gastados em felicidade. Mas o maior problema era a aceitação.

A merda é que ninguém sabe perder. Mesmo as coisas sem valor, sem significado, as coisas pequenas e minúsculas que não valem mais porra nenhuma. Somos possessivos por natureza, e ele, rapaz mimado, sabia menos ainda perder. Ela era isso: mero capricho que ele não deixaria ir fácil. Mas era uma decisão que estava fora de suas mãos, e isso o frustrava.

Então ele pergunta várias coisas sem propósito, entre elas, quer saber quando tudo acabou. Ela nunca soube responder, pois não sabia se acabou na primeira briga. Ou se acabou naquele primeiro sábado em que quis ficar sozinha em vez de estar nos braços dele. Se acabou quando aquele colega passou uma cantada e por dentro sua vaidade brilhou. Se acabou quando eles ficaram com preguiça de se arrumar pra conhecer aquele bar novo e acabaram em casa vendo um filme dublado que passava na TV. Então, ela nada respondeu, e, antes frustrado, agora ele começava a ficar irritado.

Só tinha uma coisa a fazer: ela se levantou, pegou o isqueiro sobre a mesa e foi lá fora fumar um cigarro. Simples resolução de problemas, pois era na nicotina que ela fugia de tudo. Desde os 16 quando matava aulas pra acender um filtro vermelho, que hoje dá arrepios só de lembrar. Depois, uma desculpa para as aulas mais tediosas da faculdade, aqueles quinze minutinhos pra se defumar no terraço e arejar um pouco a cabeça com a brisa da noite. Aliás, tinha sido numa dessas que eles se conheceram, e a lembrança a fez rir: como a vida era cíclica.

Mas essa fuga seguida da risada o fez passar do estágio "irritado" pra "puto", e como todo garoto mimado, ele fazia merda quando assim ficava. Ela voltou mais aliviada, pronta para resolver o assunto com maturidade e serenidade, quando ele começou a despejar todas as merdas pra fora. Disse coisas que não se diz pra uma dama, mas talvez esse tipo de cara nunca aprenda a tratar uma mulher. E ela, por mais arisca que fosse, ainda no fundo era um ser dotado de sensibilidade e começou a chorar. Desmanchou-se em lágrimas, em uma dor tão profunda que esquecera a vaidade frívola de menina que não queria borrar a maquiagem. E não se importava mais se os outros olhavam, queria mesmo é que o mundo sumisse.

A verdade é que, por mais que o amor não tenha idade, ambos eram muito novos para se apaixonar. Ela ainda tinha tanta coisa pra viver, coisas que ele nunca poderia dar. Ele era mimado, possessivo, ciumento e imaturo. Ela era rebelde, instável, boca-dura e tinha uma sede de liberdade que só aumentava a cada restrição que aquele namoro impunha. E, soluçando em lágrimas, ela começava e enxergar o óbvio, o alerta que vários tinham dado e o quanto cega havia sido por tanto tempo.

De repente olhou para ele e odiava suas roupas, seu sorriso falso e seu jeito de convencido. Havia caído em seus braços por achar que ele era ousado e confiante, mas no fundo não passava mesmo era de um babaca. Suas roupas de marca que outrora foram traduzidas em sofisticação, agora para ela eram mera falta de estilo. E o perfume dele enjoava, embrulhando seu estômago junto com aquelas palavras nojentas que ele vomitava em forma de vingança.

Aliás, o rapaz ainda continuava falando, e a imagem mental que a garota fazia era de uma figura que vomitava merda, pastosa e fedida. E o asco aumentava, sua cabeça doía, o soluço não parava e as lágrimas não davam nenhum alívio. Então ela se levantou, deu um tapa na cara dele e deixou o pequeno café sem ao menos olhar pra trás. Para ela, esse foi o melhor momento daquele relacionamento.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

18 and life

De repente, ele era o dono do mundo. Empunhava uma garrafa barata de rum, tomando seu conteúdo no gargalo, arrastando-se no seu jeans rasgado e cozinhando no sol quente. O dia amanhecia, mas o sono ainda não tomava seu corpo. Enxergava apenas o resultado de sua embriaguez, um canto da boca sangrando da briga do dia anterior. Sentia dor nos nós dos dedos, mas carregava em si um pequeno riso de satisfação de quem havia levado a melhor. Sacou as chaves do bolso, pulou para dentro do conversível e ligou o motor. A vida era uma aventura que começava agora.

Horas depois, o cansaço finalmente cobrava seu corpo. No meio da estrada, sem ter onde dormir, entrou com o carro em uma pequena via de terra até achar uma grande árvore. Parou sob sua sobra, esticou os pés para fora e adormeceu com a garrafa repousando sobre seu peito. O sol forte não incomodava, mas seu estômago roncava clamando por alimento. Ele respondia com goladas de rum quente, sem ligar pra mais nada. Batia uma brisa gostosa, e nada no mundo podia pará-lo. Iria dirigir o conversível até que alguém descobrisse o que fez, ou até que a polícia o encontrasse.

Acordou apenas de noite, com a sinfonia de cigarras que parecia um serrote em sua cabeça. Finalmente, a ressaca havia chegado, ele precisava sair de lá. Ligou o motor, arrancou bruscamente e, de volta à estrada, jogou a garrafa no asfalto, pelo prazer de escutar o vidro quebrando.Dirigiu madrugada adentro, quando notou que precisava de gasolina. Parou no primeiro posto, mas não havia frentista. Apenas uma pequena loja de conveniência fechada, que ele não hesitou em invadir para saquear um pouco de comida. Lá dentro havia cigarros contrabandeados e uísque vagabundo, e era o que lhe bastava. Ele deu a volta e parou atrás do posto, onde ficou fumando até o tédio bater e ele resolver dormir. Acordou com as primeiras luzes do dia e voltou ao posto. Precisava abastecer, mas não tinha dinheiro.

Pediu para o frentista completar e dirigiu-se à loja de conveniência, novamente. A essa hora, o caos estava instaurado no estabelecimento. As pessoas chocadas com o estado em que ele tinha deixado as coisas: garrafas quebradas e comida pelo chão. Ninguém imaginava que aquele rapaz estranho de jeans surrados é que tinha feito tamanho estrago.

Ao entrar, ele notou que uma menina jovem limpava a sujeira. Era uma gracinha, e seus trajes modestos a deixavam ainda mais provocante. Rosto de menina, corpo de mulher bem torneado. Aquela camisetinha branca cortada deixando a barria à mostra, e o shorts jeans desfiado revelando duas magníficas pernas que não foram esculpidas em academia, mas sim tornaram-se pela pelo esforço diário do labor. O cabelo ocultando metade daquele rosto angelical revelava certa timidez.

Ele não sabia ao certo o que estava fazendo ali, só precisava pensar numa solução para não pagar a gasolina. E, pra piorar, aquela beleza singela fazia com que seu raciocínio ficasse mais lerdo ainda. O relógio estava andando, e ele sabia que precisava agir rápido e traçar um plano de fuga. Será que a polícia já estava procurando pelo conversível roubado? Será que seu rosto estaria estampado nos jornais em forma de retrato-falado?

Não dava para arriscar. Ele tinha uma vida inteira pela frente, uma grande aventura. Era assim que viveria, sem pensar no ontem nem no amanhã. E a bela menina seria sua parceira. Fugiriam juntos, ele precisava ser rápido e levá-la junto.

Havia uma caminhonete parada atrás da loja de conveniência, deveria ser do dono. Então, ele esperou as pessoas saírem, pegou uma garrafa e golpeou a cabeça do velho. Quando a menina virou-se para ver a cena, ele fez sinal para que ela ficasse quieta. Roubou a carteira do senhor que agora estava desacordado, pegou as chaves no seu bolso, mais bebida e mais cigarro, e forçou a menina a entrar na caminhonete. Fugiu mais uma vez.

A garota chorava, e pedia para ir embora. Ele virava o uísque barato e não queria saber de mais nada. Andava sem rumo, sua refém não parava de chorar. Irritado e embriagado, ele dava bofetadas na cara dela, mandando-a calar a boca. Ela cuspiu em sua cara, então ele parou o carro bruscamente e a beijou à força. Começou a ir pra cima, rasgando a camisetinha dela que, envergonhada, tentava proteger os seios de sua visão. Estavam no meio da estrada, com um veículo grande, ao longe sons de sirenes. Quando escutou, ele ligou novamente a velha caminhonete e acelerou. Uma mão no volante, a outra na garrafa. Estava cansado e bebia mais e mais.

Um animal na estrada.

Ele nem conseguiu ver o que era. No reflexo, jogou o carro para o lado e a última coisa que viu foi uma árvore. Acordou com o cheiro de sangue, não havia mais beleza. Não havia mais garota, apenas um corpo e sirenes. Enquanto era algemado, ele ainda acreditava que sairia daquela. Afinal, tinha apenas 18, e uma vida inteira pela frente.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

You are not alone

Até hoje eu olho para a cicatriz. Feia, saltada sobre minha pele. Marcada num risco, marcada pelas linhas que entraram para costurar de volta aquele buraco. Se fecho os olhos, ainda posso sentir a dor, e minha respiração fica ofegante novamente. Como um filme, vejo tudo acontecendo lentamente, mas não consigo mudar a ordem dos fatos mesmo usando muito da minha fértil imaginação. E, por um instante, eu me odeio, sabendo que um dia mereci punição mais forte do que a que tive. Sabendo que não poderia reclamar se o mundo me fosse mais cruel, e que a piedade do destino é uma cobrança de dívida eterna com minha consciência.

Quando volto desse devaneio, sinto-me novamente vivo. Mais do que nunca eu sei que a vida é uma dádiva, e que cada segundo que avanço no tempo por si só é uma conquista. Há muitos momentos em que achamos que nossos sonhos estão para sempre enterrados, é quando descobrimos que existe sim um fim. E o gosto amargo da bile vem à nossa boca, o desespero espalha como neblina em nossos pensamentos e a razão se dissipa. Por sorte, descobrimos diversas vezes que estamos errados.

Tal qual uma pequena cicatriz me traz essas memórias, olhando para as falhas remendadas que existem dentro de mim eu consigo enxergar outros incidentes em que a última fronteira parecia próxima. Às vezes a gente acha que falha apenas por deixar uma lágrima cair. Outras vezes nossa falha é algo muito mais sério e embaraçoso. Eu já vivi essas duas situações e sei que, em diversos casos, eu não pedi ajuda cara a cara. Alguns dos melhores diálogos foram lado a lado, ambos olhando para o horizonte, talvez projetando lá algo que estava sendo dito. E cada pequena falha minha assim foi remendada.

Você que me conheceu em dia estranho e noite de bar. Você que ouviu meu desabafo antes que me sufocasse com minhas próprias palavras, que teve paciência de escutá-las mesmo quando tudo soava demasiadamente dramático. Você que entornou um copo comigo, que riu na embriaguez e que me deu um abraço forte de despedida mesmo sabendo que nos veríamos em breve. Você tem esse poder mágico de cura, e, por isso, celebraremos à vida. Sem separar os bons dos maus momentos, porque são minhas falhas que mostram o que tenho de melhor.

Eu não tenho mais vergonha de falar que tive medo. Até quando desafiei aos outros, até quando fui moleque petulante e irresponsável. Nem eu sei como algumas coisas deram certo, mas eu arrisquei e arrisquei alto, e ninguém pode falar que não sei jogar, porque fui até o extremo. Eu também não tenho mais vergonha de falar que tive dores bobas. Que a rejeição já me estragou uma noite, salva por um braço amigo que me arrastou até o lugar que me fazia mais feliz e me fez olhar pro céu, entendendo como tudo aquilo era pequeno e como ainda havia espaço para brilhar.

Aí eu volto para a realidade e vejo que não é uma história só minha. E como em cada parte de mim existe um conto a ser contado, cada qual com seus personagens. Eu percebo quantos segredos compartilhei e como cada um deles ficou mais leve depois disso, e que o verdadeiro alívio é poder confiar em alguém.

Tanto tempo depois e as memórias ainda estão aí. E quando eu vejo que ainda gosto daquela música imbecil, ou quando eu lembro dos acordes de uma canção que só escutei algumas vezes há muito tempo atrás, percebo como cada detalhe é importante para compor o enredo das nossas vidas. Neste tortuoso roteiro, mais reviravoltas estão por vir, e o balde de água fria espera para desmanchar meu riso de satisfação com tudo.

Mas eu quero celebrar. Quero celebrar porque a gente chega onde quer, mas acaba parando num lugar que nunca imaginou. E isso pode ser chamado de felicidade.

Há pequenas decisões que refletem em grandes conquistas. Cabe a nós desfrutar dos resultados, sempre brindando, como um ritual de agradecimento por tanta generosidade. Mas minha garrafa procura várias taças para encher, e eu quero escutar o brinde em coro, enquanto sinto uma brisa trazendo as mudanças.

Nem tudo é festa, e eu sei que coisas difíceis podem estar por vir. Mas a vida é boa e eu serei cada vez mais feliz, porque tenho em mim convicção, e isso basta para eu nunca parar. E, quando as forças me faltarem, eu sei que algumas mãos me puxarão de volta para o caminho certo. Eu sei que de pouco em pouco construí algo grande que me sustenta e não me deixa chegar ao fundo do poço. Como num brinde, posso escutar um coro de voz me dizendo: "você não está sozinho".

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

The ace of spades

Depois que aquela cadela me deixou encrencado com os seguranças do bar e sem meu relógio, eu fiquei mais casca grossa ainda. Se você nasce com um pau, não pode vacilar nunca na vida. O pau te faz macho, mas é uma fraqueza: uma mulher na jogada pode foder tudo e eu acabei caindo na cilada. Sou um cara que sempre aposta alto, não posso ceder assim. E, nesse dia, depois de liberar uma grana e amaciar os seguranças com muita lábia e scotchs, eu decidi que não me abalaria. Ainda recuperaria meu relógio. Era tudo sobre a porra do relógio.

Deu uns dias e eu tava lá, num inferninho que eu sempre ia, que fedia a charuto barato e o couro dos sofás era todo manchado. Duas loiras deliciosas se insinuavam para mim, uma de cada lado, mas eu estava focado. Numa noite em que eu desejei mais que elas se fodessem do que fodessem comigo ao mesmo tempo. Reparei que tinha um rapaz meio punk novinho acendendo um baseado, e já fui dando um tapa na orelha dele. Esses imbecis sempre se acham os delinquentes acendendo o baseado em qualquer biboca, mas é só tomar uns tapas que de punks eles viram hippies. E eu não tenho saco pra hippies.

O viadinho queria mesmo era chorar pra mamãe, mas ele sabia que tava num canto sem leis. Um lugar onde a lei era ser macho, e nesse quesito ele não tinha vez comigo. Acabou vazando na primeira encarada, eu tomei seu lugar naquele imundo sofá. A noite passava e uma morena tentou sentar no meu colo, mas eu recolhi a perna e deixei a vadia cair no chão com drink e tudo. Duas outras meretrizes a ajudaram a levantar, sem sequer conseguir olhar na minha direção. Foi então, nessa bagunça toda, que chegou quem eu esperava.

Ele parecia uma caricatura de filme, com aqueles colares grandes e pesados, cara de bicheiro. Perdia muito dinheiro no pôquer, mas ganhava muito nas ruas. Basicamente sua atividade era pegar os bens que os viciados roubavam por aí e dava uns trocados pra eles fumarem ou cheirarem. De vez em quando vinha uma correntinha de ouro ou um colar de pérolas, alguma relíquia de família e coisas assim, que valiam uma grana. E daí vinha seu real talento: ele conseguia fazer rolo por coisas "limpas" que também valiam grana, e no final tirava um trocado filho da puta. Era capaz de vender a mãe por dinheiro, e eu sabia que era envolvido em várias outras atividades ilícitas por aí. Mas foda-se, isso não era problema meu.

Ele riu e encheu meu copo com um uísque barato que eu tomei só porque era de graça. Se fosse um filho da puta qualquer, teria jogado o conteúdo do copo na cara do imbecil. Mas eu tinha um interesse, então falei pro corno sentar, ele tava rindo pra caralho porque viu a mina cair e disse que, ao ver o burburinho, sabia que era coisa minha. Perguntei se ele se sentia com sorte naquele dia, porque ele sempre respondia a mesma coisa: que sim. E não falhou: ótimo sinal para mim.

Perguntei de um relógio. Ele sorriu, um dente de ouro aparecendo. Puxou a manga daquela camisa ridícula, e mostrou o pulso. Merda! Ele tinha mal gosto mas sabia o que era valioso. O que me dizia que não seria fácil recuperar a porra do meu relógio.

Esperei a hora do jogo. Mesa cheia. A merda era essa: eu não podia eliminá-lo prematuramente, mas alguém poderia fazê-lo por mim. E aí ficaria foda pegar o que era meu de volta. Pra minha alegria, o filho da puta estava mesmo com sorte, mas eu conhecia seu jogo. Saí quando senti que ele estava com a mão boa, mesmo sabendo que a minha seria imbatível. Assim, ele eliminaria o resto e se sentira confiante. No final, ficamos só nós dois na mesa, mas minha pequena desvantagem logo desapareceu: eu estava ganhando.

O flop estava uma merda. Eu tinha uma dupla na minha mão. Uma dupla de ases. Fiz cara de que não tinha nada, e aumentei a aposta. Ele achou que era blefe, claro, e pagou. Chegou o turn. Um valete. O filho da puta soltou um sorriso que eu sabia que ele tinha uma dupla de valetes na mão. Eu tinha mais fichas, então, apostei tudo. Era muita grana, ele não conseguia cobrir a aposta, mas sabia que era questão de honra me liquidar. Eu dei uma provocada, falando que ele não conseguia cobrir, então ele mordeu a isca. Ofereceu o relógio na mesa e eu aceitei. Tudo estava valendo naquela hora, meu relógio, minha reputação, meu orgulho. Foi então que a última carta deu as caras: um às de espadas.

Eu sorri. Mostrei as cartas, sabendo que ele não bateria meu trio. Quando os dois valetes se juntaram ao da mesa minha vitória foi confirmada. Ninguém era páreo para mim, eu jamais vacilaria novamente. Nem pensei em contar as fichas naquela hora, peguei o relógio e coloquei no pulso. Enquanto o abotoava, percebi algo estranho. A sala se esvaziou, as cortinas foram fechadas e o perdedor ainda me encarava. Senti uma presença atrás de mim, então o cheiro daquele perfume me fez parar.

Uma voz inconfundível sussurou no meu ouvido, me parabenizando pela vitória. Eu queria arrebentar a cara da vadia, mas algo me fez parar. Foi então que eu entendi. O relógio não era coincidência. Ela sentou no colo do meu adversário, e os dois riam. Além de pegar travecos, o filho da puta havia armado pra mim. Ele deslizou a mão e eu sabia que não era pra pegar na bunda dela. Virei a mesa sobre eles, me joguei no chão e puxei meu canivete. Quando ele alcançou a arma, eu já rasgava seu pescoço. A vadia da travesti correu, e eu sabia que se não saísse pelos fundos viraria presunto. Mais uma vez, ela se safava e eu ficava com o prejuízo. Decidi que não. Peguei a arma do perdedor, entrei no salão e abri um rombo na cabeça dela. Merda. Eu havia vacilado pela segunda vez naquela semana.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

The Jack

Eu sabia que ela blefava. Porra, dava uma de menina carente e sem atenção, ficava se queixando da vida, mas vivia lá, dando a cara a tapa. Alguns caras decentes já se aproximaram com boas intenções, mas eu conheço o tipo: eles nunca tiveram chance. Ela fazia carinha de triste, e tudo aquilo era charme. Sua maneira de conseguir atenção, um mecanismo de defesa que havia funcionado durante anos. Já conheci muitas mais belas, mas aquela mulher tinha algo de especial. Algo de irritante mas um tom arisco que me fazia ter vontade de dominá-la. Merda, eu sabia que cederia.

Naquele dia eu tomava dois dedos de um escocês e a vi se aproximar do bar. Bloody mary. Clichê, mas achei que ela tinha mais personalidade do que as garotas que pediam cosmopolitan. Ela sabia que grande parte do bar parava para apreciar sua presença, e fazia questão de ser provocante com sua bebida. Caralho, ela sempre sabia a mão que tinha e jogava bem com isso. Mesmo eu que estava tentando ignorá-la dei uma espiada para ver o que tanto fazia todos os pescoços do bar se virarem: um vestido simples vermelho, mas que inspirava a todos um sentimento mais lascivo do que os da mulher que tomou vinho com seu amante. Então ela se apossou do banco ao lado do meu, e, sem sequer olhar na minha cara, disse uma frase qualquer, irônica. Eu estava no jogo.

A vida inteira eu tentei não ser feito de trouxa. Acabei virando um tremendo de um vagabundo, desses que consegue encantar uma mulher, conseguir o que quer e cair fora antes que ela tenha qualquer ideia de compromisso. Eu fazia isso bem, mas por mais canalha que fosse, havia uma certa ética com o meu procedimento. Ora, você pode perguntar a qualquer uma delas se não as tratei como princesas enquanto tudo corria bem. Porque eu sei tratar uma mulher, e assim como sei o que quero, sei de tudo o que elas querem. Sou exímio amante, mestre em escutá-las, e, além de tudo, meu ótimo gosto sempre fez com que as levasse nos melhores hotéis e restaurantes. Mesmo que não me importasse com elas, fazer tudo isso e fazer bem era uma questão de ego, de orgulho. De certa forma sei que fui inesquecível, e que uma mulher que se deita comigo uma vez o repetirá quando me convir. Eu sou esse tipo de cara.

Mas voltando ao bar, nem me recordo o que estava pensando naquele dia, nem o raciocínio que me conduziu a fazer aquela cagada. Eu sempre fui foda no jogo, e, assim, eu a fazia aumentar sua aposta: estava tudo realmente interessante. O melhor de mim conseguia levar bem a situação, e ela estava no terceiro drink enquanto eu nem havia importunado o bartender novamente. A trilha sonora era bizarra por sua composição, alternando entre jazz, soul e salsa. Perfeita para uma noite que não fazia sentido, na qual aquela mulher de batom e vestido vermelho parecia ficar embriagada, e eu parecia cada vez mais no controle da situação.

Fomos para um sofá no lounge mais escuro do bar. Apenas iluminado pela luz baixa de um abajur, não havia nada mais intimista do que aquilo. Ela havia trocado os bloody marys por uma taça de vinho, e eu ainda tomando um bom scotch sem gelo, apenas para molhar a boca e continuar o papo. Ela ria de todas as minhas piadas, e eu não sou uma merda de um cara engraçado. Nunca fui bobo da corte para mulheres, mas sou dotado de uma porra de uma ironia que diverte as pessoas. Eu não acho graça, mas ela ria, ria e mostrava os pulsos, e tirou um cigarro da bolsa segurando-o por muito tempo. Aquilo me deixava impaciente, mas que caralhos ela queria, fumar lá dentro? Seria tão transgressora assim?

Com o cigarro em mãos, ela se aproximou e falou no meu ouvido, de um jeito sensual e dúbio. Apenas me avisou que iria lá fora fumar, mas eu sabia que era um convite. Eu sempre fui foda, havia ganhado o jogo de novo. Era hora de ganhar todas as fichas da mesa, de submeter aquela dama de copas e levá-la para meu apartamento. Apenas por umas horas, a dispensaria pela manhã.

Lá fora, ela encostou na parede e ficava fazendo charme. Eu fazia questão de diminuir o espaço entre nossos corpos, ela se mostrava um pouco evasiva e depois deixava. Consegui a distância suficiente para um beijo, e ela começou a morder meus lábios, me puxar com força, passar a mão em todo meu corpo e a coisa ia ficando quente que eu nem sentia mais nada. Foi então que, em um ímpeto, apertei meu corpo contra o dela e senti aquela coisa. A porra da dama de copas era um valete. Chocado, olhei com fúria e ódio para ela. Ela soltou meio riso, e, logo após, gritou alto. Gritou que eu abusava dela, e os seguranças vieram pra cima de mim. Enquanto tentava me explicar, ela saiu tranquilamente no seu salto, chamou um táxi e entrou. Foi então que eu senti meu braço mais leve e meu relógio não estava mais no meu pulso. Vi o táxi indo embora e só consegui pensar em uma coisa: filha da puta!