segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Believe

O que você diz, quando encontra em um riso o grande propósito das lágrimas? De repente, você percebe que tudo valeu a pena pra ver esta pequena flexão de lábios, que pode ocorrer por qualquer motivo besta ou trivial sem perder em si sua luminosidade, mas sabe que está acontecendo por você.

Aí você se lembra de que um dia pensou em desistir, que molhou a ponta do pé e teve medo de pular na piscina, pensando que a água era gelada e subestimando o poder do sol. E ri secretamente de medos bestas que teve, de quantas vezes deixou a esperança escorrer entre seus dedos e seu coração, e quando até se revoltou acreditando que tudo era uma grande bobagem. Em contrapartida, por vezes ainda presencia tudo acontecendo e se belisca, custando a acreditar que finalmente tal felicidade chegou.

Existem vários discursos flutuando por aí, e acreditar neles não é uma questão de confiança. É uma questão de crença própria, de aguentar firme esperando aquele navio que talvez ainda nem apareça no horizonte. É fazer sinal sem ser resgatado, mas continuar gritando sempre que escutar algum sinal de vida por perto. É saber que se pode respirar debaixo d'água, e fechar os olhos e continuar andando, com passos certos e confiantes.

Então, num dia desses, banal como qualquer outro, você poderá levantar suas pálpebras para deixar a luz entrar e, de repente, se deparar com uma imagem encantadora formada por uma claridade única, em forma de lua crescente que se abre ao ver sua imagem. E perceber que outras mãos guiam a sua, e que você flutua numa dança mesmo sem saber o ritmo. E aí você sorri de volta.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Perfect

Ele ainda se lembra do cheiro de expectativa no ar, de cada batimento que acelerava quando havia aquela possibilidade de surpreender. E pensar dia após dia como surpreender, como arrancar um pequeno sorriso que fazia valer seu dia. Às vezes, tudo aquilo tinha que ser de improviso, com aquele tempo mínimo e poucos recursos para execução. Mas era nesta correria que as coisas mais inesperadas saíam, e a recompensa sempre era grande.

Havia momentos em que passava o dia inteiro planejando. Vendo e revendo diálogos, em busca de algo que tivesse passado batido, que ela tivesse dito e fosse uma das suas coisas favoritas ou experimentações ainda não realizadas. Algumas vezes, era até no chute, presenteando-a sem saber direito seu gosto, com a expectativa a mil, com o medo do erro e louvor do acerto. Assim, quando o dia começava a se esconder, quando eles iam se encontrar, ele tinha que ter algo em mente.

Neste caso, e como em toda história de amor há de ser, a recíproca era verdadeira. Aquele sorriso surpreso muitas vezes cedia espaço a uma certa marotagem, para que, furtiva, a menina também arrancasse interjeições sobre o inesperado. Ela soltava recados misteriosos durante o dia, para arrancar a curiosidade dele, morrendo de vontade de contar e segurando o máximo para não entregar o ouro. E funcionava. Ele morria para saber o que ela estava aprontando, qual seria sua próxima, o que seria a resposta para cada frase enigmática. Fazendo isso, de forma inocente, eles nem perceberam que tinham se tornado grata surpresa um do outro.

E algumas surpresas de final do dia, viraram, algumas vezes, surpresas da manhã. Palavras doces, uma visita inesperada de manhã, ou até a descrição de um sonho. Às vezes um pequeno desenho que só tinha significado a eles, ou mesmo um convite para um almoço. Pequenas manifestações que eram combustível para um dia inteiro de alegria. E, em vez de esvaírem-se de criatividade, eles foram tendo ideias cada vez mais extraordinárias.

Um dia, ele planejou a noite perfeita para levá-la a um lugar com o qual ela sempre sonhara, mas nunca tinha ido. Não a levou de surpresa, pois não tinha como, ela tinha que se preparar. Não levou nenhum presente nem mimo, pois o que queria entregar a ela era aquela vista. E quando a estavam apreciando, vendo tudo o que era belo sob seus pés, o rosto dela conseguiu ser ainda mais maravilhoso. Eles se entreolharam e tiveram a certeza de que eram perfeitos um para o outro. A verdadeira surpresa tinha acontecido há muito tempo.