sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ramble On

De repente, numa virada de olho, ele ganhou vida. Num ato trivial de um dia ordinário, no caminhar moribundo de pensamentos vazios, de uma cabeça que estava distraída, que de repente prestou atenção em uma figura que já tinha visto milhares de vezes, assim, na capa de um livro, e então sentiu algo que não sentia há tempos. E daí ele já sabia o que fazer, mesmo que a solução fosse o inesperado, o surpreendente. Não adquiriu mais conhecimento, mas, talvez, fosse um instinto que acabara de despertar em sua pessoa.

Assim, alguns medos foram deixados para trás. Esqueceu-se também de frustrações de outrora, de dores que já cicatrizaram mas ainda continuavam a incomodar por força do hábito. Experimentou um pouco da falta de noção e então lançou-se sem cordas e sem querer voltar. Buscou com vontade o fundo do poço, sem saber. E quando chegou lá, descobriu que não havia vergonha, que não havia nada mais a proteger ou zelar. Então riu de tudo, de todas as merdas que tinha feito. Descobriu que havia se maltratado porque merecia, para deixar algumas vaidades de lado. Pois as vaidades são grandes parceiras do medo, e chegam a fortalecê-lo.

Como forma de um grande pacto, prova de mudança e marca que o lembraria sempre do que o fazia respirar, do que o faria atravessar mares e oceanos. A prova de que tudo é só uma questão de querer. E foi o momento em que teve certeza, em que cumpriria o que planejava há mais de ano. Ainda houve colaboração externa, quando um sinal serviu como afirmativa e deu a largada para que ele estampasse aquele símbolo em sua própria carne.

Ele seguiu confiante, mudado. Andando no escuro, mas com a certeza de que rumo tomar. Estava ali, novamente arriscando o pescoço, mas desta vez de guarda baixa e cabeça erguida. Em sua frente, a chuva o aguardava. Em meio ao temporal, ele saberia andar com firmeza.

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