segunda-feira, 14 de março de 2011

Time

Leve como brisa, o tempo nos leva. Distraídos, a gente deixa se levar, de cabelos ao ar e sem pensar em nada. Não é tempo de ter os pés no chão, mas sim curtir esta sensação de não ter gravidade alguma nos pressionando contra o duro chão. Perdidos no tempo, podemos ser tudo e refazer todas as nossas escolhas. Não há linearidade, e sim uma sequência de fatos que organizamos a nosso bel-prazer, como um álbum de fotos ou vídeo editado, como cada frase de uma história que é escrita.

Assim é a vida, até o ponto onde temos controle de tudo, com fé inabalável e confiança de quem enxerga um tabuleiro de xadrez antevendo todas as jogadas de seu adversário. Você sabe que pode demorar, mas é uma questão de tempo até ter a coroa do outro rei aos seus pés. E, nesta hora, quando você tem o controle e dita as regras, colocando as peças onde quer sempre atingindo seu objetivo. Quando o coração palpita e você dá xeques com destreza, cada vez mais próximo da vitória... É nesta hora que a distração toma seu pensamento.

Aí a brisa vira tormenta, e o tempo não é nada menos do que tiques e taques na sua cabeça, em uma contagem regressiva para sua própria queda. A cada movimento desesperado, e por muitas vezes mal pensado, você tenta adiar o fim parando seu relógio e empurrando a pressão para seu adversário. De repente, os xeques estão contra o seu rei, e cada gota de suor é um cálculo que fugiu do seu pensamento e foi para o ralo. Um cálculo necessário, quase condicional para que não seja sua coroa tombada no quadriculado do tabuleiro.

E isso é a gravidade.

O suor caindo, um rei tombando, a leveza do ar virando pressão sobre nossos ombros. É a força do ponteiro correndo, o jogo se invertendo, o peso de um xeque contra você. É o botão do relógio que para e zera, e recomeça o jogo.

E a gravidade vira leveza de novo, nesta não-linearidade que é viver.

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