domingo, 2 de junho de 2013

Encontros Bizarros

A primeira vez que eles se cruzaram, nenhum dos dois lembra. Se forçar, ele vai lembrar que ficou intrigado por que raios no fim da primavera uma mulher usava um sobretudo. Sobretudo e botas, joelhos nus, figura estranha andando naquela movimentada avenida. Desconsiderando a vestimenta, seu visual era neutro. Qualquer um que olhasse pra ela falaria que seu nome é comum, sua cara é de conhecida e não conseguiria descrever nem os cabelos. Certamente, para os mais desatentos, ela passou despercebidas. Mas o olhar dele pousou sobre ela no exato momento entre um devaneio e outro. Acabou um pensamento, olhou para ela e partiu para o próximo. Assim seguiu a vida.

O segundo encontro dos dois foi ainda mais estranho. Era uma noite aparentemente comum, ele apenas planejava ficar quieto, talvez encontrar uns amigos e dormir cedo. Ultimamente, andava sem pique pra qualquer vagabundagem. E não que fosse um boêmio nato, ou sedutor barato, ou um homem da noite. Mas em algum intervalo entre os vinte e os trinta anos, a maioria dos homens tem um período de vida noturna, quer seja por instinto de caça ou mesmo arrastado pelos amigos. Acontece.

Mas, nessa noite específica, ele apenas queria descansar. Andava trabalhando muito. Andava ganhando pouco. Queria ficar tranquilo, economizar uns trocados. Nada de esbanjar, nada de ressaca no outro dia. Era apenas quinta-feira, e sexta era um dia longo para se trabalhar sonolento. Mas, por mais que tentasse, ele nunca poderia ignorar a lei universal que rege as quintas-feiras. Uns dizem que esse dia específico da semana tem uma áurea mística e leva as pessoas aos seus atos mais loucos. Outros apenas simplificam: "quinta é a nova sexta". De qualquer forma, é quando ocorre o inusitado. E uma pequena cervejinha com os amigos pode virar uma grande epopeia.

Lá estava ele num bar novo, pois a áurea do dia o afastou do boteco corriqueiro. O preço elevado da cerveja o fez partir para bebidas mais fortes, enquanto sua falta de grana o impediu de investir vinte reais em um sanduíche qualquer ou em uma porção de pasteis (8 unidades). Estômago vazio, a gastrite, mal de sua geração, reclamando. A vodka barata passeando pelo seu sistema digestório como uma marcha de grevistas na Avenida Paulista: lentos e barulhentos, prontos para ser dispersados de forma violenta. Enfim, lá estava ele, no mesmo papo furado de sempre com um velho amigo. Aí apareceu um conhecido, que resolveu pagar um drink a mais e... Puff, lá estava ele.

Era sua primeira vez em um prostíbulo. Não porque defendesse qualquer ideal contra transformar a mulher ou o sexo em objeto, mas simplesmente porque seu pudor excessivo o fazia ter calafrios (e não daquele jeito) só de pensar em diversas mulheres que considerava vulgares se esfregando nele. O ambiente pesado, os homens querendo mostrar poder liberando instintos primitivos. E... Aquele par de seios! Por um momento, ele ficou hipnotizado e, de repente... Estava lá. Com a cara enfiada entre aquele par de seios, em uma cama barata que rangia, os gemidos do quarto ao lado se equiparando ao abatimento de um suíno. E era ela, que não parecia tão sem-graça como no primeiro encontro, de cara maquiada, seios fartos (e siliconada), subindo nele como se fosse o último homem da terra. Pelo efeito do álcool ele nem desfrutou direito do momento, vomitou na calçada assim que saiu do lupanar e ficou com um rombo na conta bancária. Paciência.

E teve o terceiro e último encontro. Talvez porque 3 seja um número cabalístico, ou apenas por capricho do destino. Eles estavam no mesmo bistrô da Bela Cintra, em um sábado qualquer num horário meio tarde para se jantar. Ela porque mesmo no seu dia de folga o hábito já a impedia de dormir cedo. Então ia com um decote caprichado em lugares frequentados pela classe média pra ver se arrumava um freela com algum coroa carente e solitário. Ele porque tinha preguiça de pegar fila, e como tinha conseguido arrastar a estagiária do escritório para jantar, fechando o transporte público ele poderia convencê-la a ir para seu apartamento e talvez conseguir algo a mais.

Foi quando cinco pivetes entraram anunciando o arrastão. Mandaram todos para baixo da mesa, com as mãos sobre a nuca, relógios, celulares e carteiras à frente. Ele atendeu prontamente, já que nem nos seus devaneios mais ousados pensaria em reagir a um assalto. Mas quando abaixou, deparou-se novamente com aqueles pares de peito, querendo saltar pelo decote da moça. Recordou então da noite mais louca da sua vida, de como perdeu a cabeça, de como desejava novamente estar com a cara entre eles. Pensou tanto, teve tanto tesão, que não conseguiu seguir os comandos dos bandidos. Eram cinco menores de idade armados, num misto de medo e sensação de poder. Gritaram e ele não ouviu. Sua mente apenas focava nos peitos. Foi quanto o mais estourado deles puxou o gatilho e espalhou seus miolos pelo chão do bistrô. Executado de forma horrível e brutal, ele ainda morreu de pau duro.

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