terça-feira, 17 de agosto de 2010

Everybody Learns From Disaster

Já vem a primavera, para preencher de cores a paisagem melancólica toda de traços em escala de cinza, que clama e grita pedindo algum rompimento. Sobretudo, além de bela, é pura, pois para renascer a gente precisa de beleza inocente, tal qual aquele sorriso de quem acorda depois de um sonho intenso. A cidade espera que ela pouse delicada, com o deixar do inverno, como borboleta em pétala de flor. Que nos cerque, esvoaçante, e, devagar, venha descer com asas coloridas que batem sutis no jardim.

Não, a estação fria não é feia. É bela, mas tem beleza séria, quase triste. Se fosse música, certamente seria aquele blues que, impiedoso, toca fundo sua alma, e chora triste como o último canto de um belo pássaro. Para romper com ela, tem que ser mesmo a primavera. Carregada de juventude e fértil, toda sorridente e enfeitada.

Talvez esta seja a passagem mais importante. É a transição da vida, o rito entre o fim e o começo. E, nesta etapa, eles ficam invertidos, pois o fim é a etapa anterior. É o fim do fato que nos faz aprender para o começo das atitudes que vamos tomar dali pra frente. E elas vão amadurecer no verão e outono, só sobrando as sementes e raízes mais preciosas para o próximo ciclo.

A primavera está chegando. E nosso jardim vai devolver todo carinho que nele depositamos.

2 comentários:

  1. "É bela, mas tem beleza séria, quase triste"
    e tem um quê de carente e exigente. não é uma estação que passa desapercebida. seu carinho gelado é quase incômodo e nos leva a outros braços, outros calores.
    desses calores todos, nascem todas as coisas, todas as cores... primavera.

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  2. É isso que me faz feliz, ler um texto seu, sempre tão bem construído, cheio de felicidade, inocência e verdade...

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