quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Perfect

Ele ainda se lembra do cheiro de expectativa no ar, de cada batimento que acelerava quando havia aquela possibilidade de surpreender. E pensar dia após dia como surpreender, como arrancar um pequeno sorriso que fazia valer seu dia. Às vezes, tudo aquilo tinha que ser de improviso, com aquele tempo mínimo e poucos recursos para execução. Mas era nesta correria que as coisas mais inesperadas saíam, e a recompensa sempre era grande.

Havia momentos em que passava o dia inteiro planejando. Vendo e revendo diálogos, em busca de algo que tivesse passado batido, que ela tivesse dito e fosse uma das suas coisas favoritas ou experimentações ainda não realizadas. Algumas vezes, era até no chute, presenteando-a sem saber direito seu gosto, com a expectativa a mil, com o medo do erro e louvor do acerto. Assim, quando o dia começava a se esconder, quando eles iam se encontrar, ele tinha que ter algo em mente.

Neste caso, e como em toda história de amor há de ser, a recíproca era verdadeira. Aquele sorriso surpreso muitas vezes cedia espaço a uma certa marotagem, para que, furtiva, a menina também arrancasse interjeições sobre o inesperado. Ela soltava recados misteriosos durante o dia, para arrancar a curiosidade dele, morrendo de vontade de contar e segurando o máximo para não entregar o ouro. E funcionava. Ele morria para saber o que ela estava aprontando, qual seria sua próxima, o que seria a resposta para cada frase enigmática. Fazendo isso, de forma inocente, eles nem perceberam que tinham se tornado grata surpresa um do outro.

E algumas surpresas de final do dia, viraram, algumas vezes, surpresas da manhã. Palavras doces, uma visita inesperada de manhã, ou até a descrição de um sonho. Às vezes um pequeno desenho que só tinha significado a eles, ou mesmo um convite para um almoço. Pequenas manifestações que eram combustível para um dia inteiro de alegria. E, em vez de esvaírem-se de criatividade, eles foram tendo ideias cada vez mais extraordinárias.

Um dia, ele planejou a noite perfeita para levá-la a um lugar com o qual ela sempre sonhara, mas nunca tinha ido. Não a levou de surpresa, pois não tinha como, ela tinha que se preparar. Não levou nenhum presente nem mimo, pois o que queria entregar a ela era aquela vista. E quando a estavam apreciando, vendo tudo o que era belo sob seus pés, o rosto dela conseguiu ser ainda mais maravilhoso. Eles se entreolharam e tiveram a certeza de que eram perfeitos um para o outro. A verdadeira surpresa tinha acontecido há muito tempo.

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