segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Zoso

Eram duas histórias paralelas, e eu não sabia o que fazia em nenhuma delas. Só sei que eu andava impulsivo, e não iria deixar passar em branco. Ela mexia comigo de alguma forma que eu não sabia explicar, e por isso os meus dedos ficavam inquietos no celular provocando-a, sempre com respostas prontas do tipo que nunca tive. Falei um bocado de merda só pra ela rir, precisava fazer essa graça mas nem sabia a finalidade. Eu fui uma porra de um pentelho, uma pedra no sapato, mas não queria parar com isso. Era como um vício, um vício tão forte que eu não podia lutar contra.

Fora isso, deixando de lado aquele rosto que era faísca de uma combustão iminente, alguns impulsos novos trilhavam meu caminho. E eu estava sempre lá, com um copo de cerveja na mão e rindo de tudo, familiarizado com pedintes e figuras carimbadas de bar. Comecei a descer escadas rolantes que subiam, cheguei a arrebentar meu joelho. Mas acabei rindo de tudo isso, e as teclas do meu celular não davam sossego. E a porra da linearidade agora não importa nas minhas memórias.

Eu queria ser que nem eles. Sonhar e ir até o fim com isso. Ser ousado, atropelar todas as críticas e antes de morrer, pensar "caralho, eu cheguei ao topo do mundo pelo menos por um segundo". E deu um trampo resgatar tudo aquilo que eu era, juntar os cacos, colar tudo pra pular de cabeça de um abismo de novo. De novo, eu nunca soube o que estava fazendo.

Claro, a vida podia me vencer pelo cansaço. Mas desta vez eu estava disposto a tudo, minha cara não tinha mais preço, era só chegar e bater. E foda-se se o mundo é sádico, a gente tem que apanhar muito mesmo, mas tem que chegar dando bicuda pra ver se arromba a porta da felicidade à força. Eu tava há mais de um ano planejando o feito e daí me fizeram tomar coragem, e desta vez eu ia sem nada a perder.

A agulha na carne, a tinta na pele, e a banda mais foda do mundo tocando no rádio. Minha falta de noção ainda tentando fazer graça, ainda tentando chamar atenção. As coisas que eu nem sabia que iam acontecer já se esboçando. Dedos nas teclas, desesperados por um sorriso, e eu finalmente tinha conseguido um convite. Antes da tinta secar, ela foi molhada por chuva. Mas eu não tava nem aí, algumas coisas nascem para ser lenda. O resto é história.

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