segunda-feira, 25 de julho de 2011

Cupid

Ele está sentado no canto do bar. Estufa o peito e abre os braços para falar, sem largar o copo baixo de wiskey, e nunca derruba uma gota. É assim, ele faz barulho quando chega, e fala alto. Às vezes é até inconveniente com isso, mas ninguém se incomoda, pois é pura empolgação. Tudo na vida, do jeito que mostra, parece novidade, parece um espetáculo no momento em que as cortinas são abertas. E as palavras são mágicas, num conto amarrado tão inabalável a ponto de ficarmos mudos sem questionar tal narrativa fantástica.

Enquanto isso, ela está cercada de amigas. Sabe curtir cada fatia deliciosa do bolo da vida, numa aventura contínua de tecer sua história sem ficar pensando nos próximos parágrafos. Relê suas próprias páginas de tempos em tempos, pois todo conto evolui. Ela diz que não, mas espera que uma hora finalmente o clímax chegue. O clímax da vida, pois, na cama, já provou muito disso. Está numa fase em que toma as decisões que lhe cabe sem pensar em julgamentos. Na verdade, sabe que os outros que devem se preocupar com seu julgamento, pois vive sem culpa numa deliciosa brisa de verão.

Quem vê os dois acha que está tudo bem. E está.

Por um acaso eles se conhecem. Já trocaram confidências e torceram um para o outro. Beberam juntos várias vezes, são ótimos amigos de copo. Cada um com seu jeito, mas na mesma espera. O que eles têm em comum é o coração puro. É a inteligência, a conversa fácil, o humor. São pessoas peculiares, dessas que podem marcar sua vida e acompanhá-la em todos os momentos. Ótimos confidentes, desprovidos de inveja e o jeito com que se entregam à vida é especial.

Quem os vê acha que não precisam mais de nada.

Mas isso já é mentira. Eles precisam. Precisam, um dia, encontrar cada qual sua cara metade. Quem sabe um dia apresentarão seus parceiros um para o outro. E o número de dois irá para quatro. E as risadas, e o gosto pela vida serão multiplicados.

Não é difícil se encantar por eles. Talvez precisem apenas das suas flechas de cupido.

2 comentários:

  1. Enzo... que vontade de mostrar pra todo mundo e dizer "sou eu! meu amigo foda quem fez!".
    Você é o cara! [2]

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