segunda-feira, 30 de julho de 2012

Drowning

O ar se esvai junto com a coragem. Mas é preciso respirar. Eu quero nadar pra superfície e encher meus pulmões, eu quero emergir mais uma vez, confiante e cheio de crenças, de sonhos. A força é sobre-humana para manter-se longe do fundo, e se isso é tão difícil, que dirá subir, subir tantos palmos. Quando mais eu desço, menos suportável é a pressão. O corpo sente-se cansado, os braços não respondem mais. O jeito com que me debato por ar é ridículo. Não se luta contra os deuses, e o senhor dos mares me mantém nessa posição patética.

Ingenuidade. A gente sempre acredita que tudo é bom, único, insubstituível. Que o mundo tem um topo, que vamos deixar nossa marca. E, no entanto, todo nosso esforço é superficial. Como um pequeno arranhão em toda a imensidão do mundo. Somos formigas, formigas a ser afogadas. Somos o mínimo, o minúsculo, de pulmões frágeis e ossos quebráveis. Somos a vida frágil, crendo que temos o poder da transformação. Somos palavras que são sussurradas no ouvido e depois de um tempo somos esquecidos.

Somos uma mera reflexão pré-óbito.

E então, quando aceitamos tudo isso. Quando nossa existência não faz mais diferença e o corpo cede, por milagre começamos a flutuar. Emergimos sem o menor esforço, respiramos o ar como um renascimento. Enchemos os pulmões, avistamos terra e ousamos sorrir. Sorrimos porque teremos sol, sobra e segurança. Porque descansaremos, enfim, e contemplaremos o mar no seu mais belo ângulo. Teremos um horizonte novo, com abundância de ar, e a água passará apenas a nos refrescar.

Mas quando ousamos sorrir afrontamos os deuses, e nova tempestade surge. Como castigo pela nossa prepotência, como uma lição que deve ser ensinada. Uma tempestade forte, uma demonstração de fúria. Sobrenatural e rápida que chega antes de conseguirmos colocar os pés na areia. Que encobre o sol, que desfolha as árvores e levanta as mais altas ondas, numa força que nos puxa antes que possamos reagir, implacável.

E afundamos novamente.

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