Eu estou sentado do chão de um canto de um apartamento vazio, tomando um gole de whisky em uma frasqueira. Sozinho, não há móvel em canto algum. O único som vem da rua, da janela aberta. E a rua não tem movimento, com o céu acinzentado há poucos pássaros a cantar. Ouve-se o vento chacoalhando as árvores, passeando pelas frestas da janela e nada mais.
E por incrível que pareça, isso não é tristeza.
As paredes brancas projetam um destino que nunca chega, um horizonte vasto do deserto que atravesso no momento. Não sei o que vou encontrar pela frente, mas sei que é a direção a seguir. Como um viajante guiado apenas pela bússola, curtindo o percurso na aventura de saber onde isso vai dar. As paisagens no caminho são maravilhosas, mas a poeira irrita e o sol queima as retinas. O tempo e o espaço me guiam, e eu sei que cedo ou tarde, no meio do caminho, aparecerá o que procuro.
Não olho mais para trás. E, de repente, ver tudo que já andei não faz mais sentido. Já tomei as lições que deveria, chegou a hora, de aplicar tudo que aprendi em todo esse tempo na estrada. Mesmo acompanhados, sozinhos somos no mundo, numa caçada pelo que nos preenche e satisfaz. Só cabe a nós essa busca, mesmo que tenhamos sempre com quem contar ou a quem recorrer. Só cabe a nós porque a selva é nossa, e a presa apenas é vista por nossos olhos.
De repente, parece que tudo se deslancha, como o fim de um ciclo, que me recobre de esperança e otimismo. As emoções são fortes, e, antes que as coisas aconteçam, a vida oscila entre positivos e negativos extremos, como um sol intenso que queima forte, mas, ao mesmo tempo, dá espaço para suave brisa que acaricia o rosto e diz que devo continuar seguindo em frente no mesmo caminho.
A verdade é que me perderei por diversas vezes. E, por outras incontáveis, eu hesitarei no meio do caminho, darei passos para trás e ficarei parado no tempo. Concluo que, no fim da viagem, eu conseguirei o que quero. Porque posso desconhecer o caminho e o que vem em frente, mas das minhas vontades eu sei. É o que basta para chegar lá.
Fecho a frasqueira, confiro as horas, apoio os braços sobre os joelhos e deixo escapar um pequeno riso.
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