quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

18 and life

De repente, ele era o dono do mundo. Empunhava uma garrafa barata de rum, tomando seu conteúdo no gargalo, arrastando-se no seu jeans rasgado e cozinhando no sol quente. O dia amanhecia, mas o sono ainda não tomava seu corpo. Enxergava apenas o resultado de sua embriaguez, um canto da boca sangrando da briga do dia anterior. Sentia dor nos nós dos dedos, mas carregava em si um pequeno riso de satisfação de quem havia levado a melhor. Sacou as chaves do bolso, pulou para dentro do conversível e ligou o motor. A vida era uma aventura que começava agora.

Horas depois, o cansaço finalmente cobrava seu corpo. No meio da estrada, sem ter onde dormir, entrou com o carro em uma pequena via de terra até achar uma grande árvore. Parou sob sua sobra, esticou os pés para fora e adormeceu com a garrafa repousando sobre seu peito. O sol forte não incomodava, mas seu estômago roncava clamando por alimento. Ele respondia com goladas de rum quente, sem ligar pra mais nada. Batia uma brisa gostosa, e nada no mundo podia pará-lo. Iria dirigir o conversível até que alguém descobrisse o que fez, ou até que a polícia o encontrasse.

Acordou apenas de noite, com a sinfonia de cigarras que parecia um serrote em sua cabeça. Finalmente, a ressaca havia chegado, ele precisava sair de lá. Ligou o motor, arrancou bruscamente e, de volta à estrada, jogou a garrafa no asfalto, pelo prazer de escutar o vidro quebrando.Dirigiu madrugada adentro, quando notou que precisava de gasolina. Parou no primeiro posto, mas não havia frentista. Apenas uma pequena loja de conveniência fechada, que ele não hesitou em invadir para saquear um pouco de comida. Lá dentro havia cigarros contrabandeados e uísque vagabundo, e era o que lhe bastava. Ele deu a volta e parou atrás do posto, onde ficou fumando até o tédio bater e ele resolver dormir. Acordou com as primeiras luzes do dia e voltou ao posto. Precisava abastecer, mas não tinha dinheiro.

Pediu para o frentista completar e dirigiu-se à loja de conveniência, novamente. A essa hora, o caos estava instaurado no estabelecimento. As pessoas chocadas com o estado em que ele tinha deixado as coisas: garrafas quebradas e comida pelo chão. Ninguém imaginava que aquele rapaz estranho de jeans surrados é que tinha feito tamanho estrago.

Ao entrar, ele notou que uma menina jovem limpava a sujeira. Era uma gracinha, e seus trajes modestos a deixavam ainda mais provocante. Rosto de menina, corpo de mulher bem torneado. Aquela camisetinha branca cortada deixando a barria à mostra, e o shorts jeans desfiado revelando duas magníficas pernas que não foram esculpidas em academia, mas sim tornaram-se pela pelo esforço diário do labor. O cabelo ocultando metade daquele rosto angelical revelava certa timidez.

Ele não sabia ao certo o que estava fazendo ali, só precisava pensar numa solução para não pagar a gasolina. E, pra piorar, aquela beleza singela fazia com que seu raciocínio ficasse mais lerdo ainda. O relógio estava andando, e ele sabia que precisava agir rápido e traçar um plano de fuga. Será que a polícia já estava procurando pelo conversível roubado? Será que seu rosto estaria estampado nos jornais em forma de retrato-falado?

Não dava para arriscar. Ele tinha uma vida inteira pela frente, uma grande aventura. Era assim que viveria, sem pensar no ontem nem no amanhã. E a bela menina seria sua parceira. Fugiriam juntos, ele precisava ser rápido e levá-la junto.

Havia uma caminhonete parada atrás da loja de conveniência, deveria ser do dono. Então, ele esperou as pessoas saírem, pegou uma garrafa e golpeou a cabeça do velho. Quando a menina virou-se para ver a cena, ele fez sinal para que ela ficasse quieta. Roubou a carteira do senhor que agora estava desacordado, pegou as chaves no seu bolso, mais bebida e mais cigarro, e forçou a menina a entrar na caminhonete. Fugiu mais uma vez.

A garota chorava, e pedia para ir embora. Ele virava o uísque barato e não queria saber de mais nada. Andava sem rumo, sua refém não parava de chorar. Irritado e embriagado, ele dava bofetadas na cara dela, mandando-a calar a boca. Ela cuspiu em sua cara, então ele parou o carro bruscamente e a beijou à força. Começou a ir pra cima, rasgando a camisetinha dela que, envergonhada, tentava proteger os seios de sua visão. Estavam no meio da estrada, com um veículo grande, ao longe sons de sirenes. Quando escutou, ele ligou novamente a velha caminhonete e acelerou. Uma mão no volante, a outra na garrafa. Estava cansado e bebia mais e mais.

Um animal na estrada.

Ele nem conseguiu ver o que era. No reflexo, jogou o carro para o lado e a última coisa que viu foi uma árvore. Acordou com o cheiro de sangue, não havia mais beleza. Não havia mais garota, apenas um corpo e sirenes. Enquanto era algemado, ele ainda acreditava que sairia daquela. Afinal, tinha apenas 18, e uma vida inteira pela frente.

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