domingo, 10 de março de 2013

Pink

Era mais um dia quente de verão, tão quente que o asfalto parecia evaporar e queimar a sola dos sapatos. Mas ele não estava nem aí, apenas abriu a garrafa d'água, que também parecia suar, e tomou metade do seu conteúdo em apenas uma golada. Enxugou sua testa com as costas das mãos e parou encarando a avenida, à espera de que o semáforo segurasse os carros e permitisse sua passagem.

O relógio ainda nem marcava nove horas, mas aquilo parecia o sol do meio-dia. Talvez isso tenha fritado seus miolos, junto com aquela preguiça aconchegante de quem pouco dormiu, e ele começou a ver coisas. Entre os carros que iam e os que voltavam, os ônibus e caminhões, tratores e dromedários que trafegavam àquela hora, ele viu de longe um pequeno borrão que de alguma forma chamou sua atenção.

Levantou parcialmente seus óculos escuros para enxergá-la melhor, expondo sua retina ao azul tão claro do céu que mesmo fazendo de tudo para se mostrar de forma tão deslumbrante, ainda não conseguia ofuscá-la. E no espaço entre os veículos que passavam ele a paquerava, observando cada detalhe do seu jeito singular de se vestir, do seu corte de cabelo, e daquele sorriso inocente tão cativante.

Então finalmente o sinal parou os carros e estendeu seu tapete vermelho para que ele pudesse atravessar as duas pistas. Mas ele não conseguiu mover um músculo, parecia que sequer respirava. Imóvel, já com os óculos escuros postados novamente para disfarçar seu olhar fixo sobre a moça, ele observava como ela andava com graça enquanto o vento soprava seus cabelos no maior clichê que havia vivido até então. Ela foi se aproximando e diluindo o odor de monóxido de carbono exalado pela quantidade absurda de automóveis que transitavam naquela hora. Ele sentiu cheiro de banho fresco, de um perfume sutil e algo a mais que o hipnotizava a cada passo que ela dava.

Finalmente ela passou por ele, tão leve como se carregada por aquela brisa de verão. Ele quis olhar para trás, mas de repente achou que pareceria algum tipo de maníaco, se é que já não estava parecendo. Pensou por mais um segundo e resolveu seguir em frente, mas o sinal estava aberto novamente para os carros. Não havia outra escolha.

Virou-se e deu o primeiro passo atrás dela. Arrumaria algum jeito de descobrir quem era, ou talvez até pegar seu telefone. Ele era tímido, não fazia esse tipo de coisa, mas não podia deixar alguém como ela passar assim e ir embora. Deixou para trás todos seus medos e dúvidas. Totalmente movido pelo ímpeto, por uma vontade única de iniciar um diálogo, quase um desespero que vinha do seu âmago. Mas um desespero bom, que aquecia seu coração e dava esperanças. Não importava o que aconteceria dali para frente, o céu azul havia se tornado cor-de-rosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário