sexta-feira, 15 de março de 2013

Psycho Killer

O frio na espinha significa alguma coisa. Ela sabe que ele é um psicopata, pois há algo de muito estranho em toda a situação. Não está confortável, mas até agora não houve nada de contundente para fazê-la correr. Imagina que triste clichê: a menina que vive leve, tal qual protagonista inocente de filme B, sendo perseguida por um maníaco que a passos lentos empunha sua lâmina tão fria quanto sua consciência psicótica, e com obsessão calcula o golpe, coagindo-a até onde ninguém possa escutar seus gritos. Esse pensamento a incomoda e a faz ter cautela.

Muita gente passa por aqueles corredores. Determinado, ele vai até o fundo do estabelecimento, pois sabe que lá encontrará o que procura. Agora tudo é diferente, caminha com a perícia de quem já percorreu tal trajeto por diversas vezes. Lembra-se de quando era um amador, e o nervosismo quase colocou tudo a perder, mas por sorte saiu ileso. Ele sorri, pois era um dia de grandes ofertas. Com toda paciência do mundo, escolhe metodicamente qual a vítima do dia. Calcula peso e tamanho, considera todas as variáveis e apenas depois de tudo isso parte pro bote. Seu olhar havia se tornado preciso.

Ela segue sua rotina sem se abalar. Sabe viver sendo imponente, mas a passos leves para não ser seguida. Assim como um grande felino, que tem suas cores e belezas e ainda assim consegue espreitar, desaparecer e subir em árvores. Seus instintos são fortes, e não há predador que seja presa fácil. Ao inferno o psicopata, sua lâmina e seu coração frio. Se algum olhar pousar em suas costas, ela discretamente consegue ver sobre seus ombros e ficar alerta. E ali, com garras escondidas e olhar firme, ela sabe se defender e estraçalhar qualquer um que tente qualquer agressão.

Com a vítima embrulhada, ele espalha suas ferramentas sobre a bancada. Abre com cuidado uma caixa que contém seu xodó: uma faca enorme de lâmina reluzente. Liga uma música feliz, e cantarola enquanto afia a lâmina. Ele quer cortes precisos, quer que a carne não ofereça nenhuma resistência. É nesse pequeno processo artesanal que reside a beleza do que faz, filosofa. Precisa ter firmeza, mas, acima de tudo, tudo precisa acontecer de forma limpa para não estragar todo trabalho que teve até então. Olha de canto para sua vítima, solta um sorriso e seus olhos brilham. Sabia que havia feito a escolha perfeita.

Vira a página do livro e as letras começam a se embaralhar. Já nem lembra mais do pensamento que a incomodava. No fim do dia, o que importa é fechar os olhos e sonhar. Seu pensamento estava distante, sem imaginar o que há alguns quilômetros dali está acontecendo. Ela fecha a capa, coloca sobre seu criado-mudo e apaga a luz. Amanhã será um dia como outro qualquer.

Realizado, ele olha para sua obra. Num pequeno deslumbre de megalomania, considerava aquilo arte. Enche a taça de vinho, sente o cheiro que paira no ar, e, então, um cansaço bom toma conta do seu corpo. Tenso, ele espera pelo julgamento das pessoas. Então eles aprovam aquele maravilhoso corte de contra-filé, preparado com simplicidade mas muito capricho. Sorri mais ainda ao lembrar que fora chamado de psicopata: sua lâmina só tocava a carne já morta, numa devoção nada egocêntrica, e sim ao prazer alheio.

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